Armando
Correa de Siqueira Neto*
A motivação humana é observada desde tenra idade e sob
diferentes formas. O bebê que busca a satisfação de sua
fome, somada ao aconchego de um colo quente e acolhedor, demonstra, ao sugar
o peito ou uma mamadeira, possuir motivação de sobra, impulsionada
por seu instinto e fisiologia, que cobra dele a nutrição e os
afetos — expressos pelo choro, por vezes intensos e fortes, e pelos movimentos
mais bruscos de braços e pernas.
Em outra época, em que o desenvolvimento permite certa independência
de movimentos de locomoção e de manipulação de objetos,
vêem-se outras possibilidades inerentes ao tipo de motivação
na criança. No brincar, especial circunstância do cotidiano infantil,
encontra-se rica fonte de informações acerca do mundo interno
dela: suas emoções e pensamentos.
Para a criança, que busca entretenimento de diversas formas, valendo-se
de sua ilimitada criatividade, os objetivos do brincar demonstram ter pouca
importância; ao contrário de sua exploração e de
seu meio. Ao observá-la durante a brincadeira, percebe-se que há
momentos em que, ao brincar, ela apenas age sem qualquer finalidade. Todavia,
há circunstâncias em que a criança encontra uma finalidade
naquilo que está fazendo. Por exemplo: ela pode encher uma pequena pá
de areia e permanecer imóvel, tentando imaginar o que fazer com aquilo.
E pode iniciar um movimento freqüente de esvaziar a areia em uma caçamba
de brinquedo, demonstrando, assim, emprego concentrado de energia naquela atividade,
além de se manter estável na freqüência de seus comportamentos.
Isto posto, pode-se caracterizar tal situação dividindo-a em
duas etapas. Na primeira, existem os objetos (pá e areia), mas não
há uma finalidade a ser atingida. Na segunda, é acrescido um novo
elemento: a motivação, percebida na concentração
exercida durante os freqüentes movimentos de encher a pá com a areia
e esvaziá-la na caçamba repetidas vezes.
Portanto, observa-se a forte presença de motivação por
meio de determinada atividade em uma criança de tenra idade: aos 2 anos,
por exemplo.
Com o avançar da idade, nota-se novo momento de se construir a motivação.
Um exemplo desse processo, na psicologia infantil, são as competências
adquiridas. Tornar-se competente em seu meio social leva a criança à
motivação. Uma habilidade motora específica nos esportes
pode ser desenvolvida, e isso é capaz de acionar o desejo de se empreender
tal atividade com determinado empenho. O reforço externo, relativo à
performance das habilidades adquiridas, vindo dos pais e conhecidos, possibilita
o incentivo à motivação. Se a performance for percebida
pela criança ao adquirir um aperfeiçoamento, isso vai levá-la
a desenvolver uma boa auto-estima e também à motivação
intrínseca ou interna.
Por outro lado, a criança que pouco percebe suas competências
necessita de maior estímulo externo, possui baixa auto-estima, demonstra-se
ansiosa e, ainda, enxerga pouca perspectiva de melhora em suas habilidades.
O segredo está em conseguir conciliar o desenvolvimento da motivação
intrínseca da criança (por meio da percepção dos
avanços obtidos por ela própria e do processo necessário
para que eles ocorram), com o apoio da motivação extrínseca
ou externa (avaliação dos adultos, informações a
respeito, elogios verdadeiros, etc.). Esse tipo de desenvolvimento requer acompanhamento,
contato e participação. Os afetos devem estar presentes, uma vez
que são fonte fundamental de motivação, além das
informações que se fazem presentes em cada situação.
Boa dose de paciência e vontade complementa o arsenal de instrumentos
necessários ao adulto para que colabore quanto ao desenvolvimento motivacional
da criança.
A motivação deve receber especial atenção e ser
mais bem considerada pelas pessoas que mantêm contato com as crianças,
realçando a importância dessa esfera no desenvolvimento delas.
A motivação é energia para a aprendizagem, o convívio
social, os afetos, o exercício das capacidades gerais do cérebro,
a superação, a participação, a conquista, a defesa,
entre outros. Pais ou cuidadores, educadores e especialistas que lidam com as
crianças podem levar em conta a construção motivacional
na infância, antevendo suas decorrências futuras, tais como a autopercepção
e o hábito de desenvolver a motivação intrínseca,
reduzindo a necessidade de buscar motivação extrínseca
para a realização de alguma tarefa.
De que maneira os adultos compreendem a motivação na infância?
Que tipo de acompanhamento é oferecido à criança visando
ao seu desenvolvimento global e, particularmente, ao desenvolvimento da motivação?
Que respostas relacionadas à motivação podem ser esperadas
de um adulto que pouco desenvolveu sua capacidade motivacional intrínseca
na infância?
Compreender aspectos da motivação nesse período da vida
facilita ao adulto o entendimento sobre que tipo de ajuda poderá oferecer
à criança, desde que haja um compromisso nessa relação.
A presença do adulto é fundamental. A criança se sente
motivada a executar muitas tarefas em virtude do reconhecimento e das impressões
daqueles com quem convive, na tentativa de demonstrar sua evolução
e as conquistas que realiza. Os bons motivos serão sempre a chave para
o desenvolvimento natural da criança, além de gerarem harmonia
entre os elementos internos e externos, parte da própria natureza humana.
A motivação infantil tem lugar de destaque no desenvolvimento
de nossa espécie. Não é algo que deva ser fonte de preocupação
posterior. É no aqui e no agora que as coisas acontecem. Essa oportunidade
pode passar e, então, criar dificuldades em outro momento. Colaborar
já é motivo para que haja boa qualidade no convívio atual
e especial preparação para o futuro. Motive-se também!
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*Armando Correa de Siqueira Neto é
psicólogo,
consultor, conferencista e escritor.
Desenvolve treinamentos organizacionais, palestras sobre
psicologia preventiva e eventos educacionais.
E-mail: selfpsicologia@mogi.com.br.