Almeida
Divino Gonçalves
No início da minha formação acadêmica como professor
da área de Ciências Físicas e Biológicas, devido
à carência de profissionais habilitados, comecei a lecionar as
disciplinas de Ciências e de Matemática nas escolas públicas
de Divinópolis (MG).
Vivenciei durante muito tempo a angústia de não conseguir propiciar
a meus alunos uma aprendizagem eficiente, resultante de um grande desejo de
aprender. Mesmo sabendo que a maioria dos meus alunos “aprendia”
e “passava de ano”, não me conformava com o fato de alguns
não atingirem a média necessária. Acreditava que, durante
a continuidade do curso na faculdade, seria munido de técnicas e conhecimentos
capazes de me satisfazerem no aspecto pedagógico, melhorando a qualidade
do meu trabalho e os resultados obtidos.
Terminada a minha graduação, infelizmente o curso não
atendeu às minhas reais necessidades. Ansioso, queria encontrar a solução
para alguns dos problemas de aprendizagem pelos quais eu passava com meus alunos.
Sentia-me impotente diante da dificuldade de não solucionar os casos
mais graves. Procurei investir em minha formação continuada fazendo
diversos cursos de especialização. Na área de Ciências
Exatas, tentava suprir as necessidades educacionais, que por sinal estavam muito
latentes. Também não consegui satisfação, uma vez
que o conhecimento adquirido era na maioria das vezes conteudista. Precisava,
sim, de muito mais que saber conteúdo: saber como ocorrem o processo
ensino-aprendizagem e a relação professor/aluno.
Os depoimentos e a observação das transformações
ocorridas na prática pedagógica e na relação social
de profissionais psicopedagogos impulsionaram-me, o exemplo da mudança
percebida norteou minha formação e, mais uma vez, busquei o conhecimento
que me fizesse compreender as relações de aprendizagem, iniciando
o curso de Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Durante o curso, pude compreender e analisar detalhadamente a forma como o
sujeito se relaciona com a aprendizagem. A Psicopedagogia é um processo
de investigação do não-aprender, do aprender com dificuldade
ou lentamente, do não-revelar o que aprendeu, do fugir de situações
de possível conhecimento; explicitando-se assim as condições
de aprendizagem do sujeito e procurando-se identificar suas áreas de
competência e de dificuldade.
Apesar de sua importância, somente compreendi, com maior clareza, todas
as relações citadas acima a partir do momento em que me envolvi
com o estágio supervisionado. Passando da reflexão para a ação,
tornaram-se claros vários aspectos do curso que, até então,
por meio de aulas e trabalhos, estavam obscuros.
Vivenciando os casos de não-aprendizagem de uma escola da cidade, formamos
uma equipe de estagiários voluntários para trabalhar com algumas
crianças dessa instituição. Sob os olhares da supervisora
de estágio, socializamos as experiências vivenciadas no atendimento
clínico, possibilitando um rico espaço de interação
entre os envolvidos, principalmente as crianças. Pela observação
e pelos relatos das professoras dos nossos clientes, comprovamos, na prática,
a importância da intervenção psicopedagógica, pois
a mudança ocorrida nas crianças, que supostamente eram incapazes
de aprender, deixou-nos realizados diante do avanço apresentado por elas
nos aspectos social, cognitivo e afetivo.
O psicopedagogo não é mais um especialista na escola, mas, sim,
um profissional munido de competências capazes de introduzir novos conhecimentos,
posturas básicas e formas de trabalhar a construção e a
produção de conhecimento. Com atuação numa linha
preventiva ou terapêutica ou enquanto educador, ele procura despertar
e incentivar os alunos que se encontram à margem do saber, contribuindo
para torná-los sujeitos autônomos.
Após o curso, percebi a mudança ocorrida na minha prática
escolar e vida social. Passei a enxergar as relações de aprendizagem
sob a luz de um novo olhar, mas, claro, ainda estou cheio de dúvidas
e faltas, inacabado... Isso é a minha pulsão de vida.