Armando
Correa de Siqueira Neto*
O conhecimento é concebido por seu conteúdo e pela beleza de
suas possibilidades quando em contato com a aprendizagem humana, e sua imagem
chega-nos como um bem precioso e inquestionável. E, de fato, havemos
de concordar com a proposição de seus valores. Apenas não
medimos esforços em avaliar a sua presença contextual na história
da evolução humana.
Para compreender parte da dinâmica de funcionamento da construção
do conhecimento, torna-se relevante estudar o ponto de desenvolvimento em que
nos encontramos e o progresso que o antecedeu.
Imaginamo-nos altamente capacitados no reino da razão, e os avanços
tecnológicos atestam essa idéia. Cremos em demasia na superioridade
intelectual conquistada pelo homem e habilmente descrita pela História.
E, embora esse conceito seja simpático do ponto de vista da vaidade e
da auto-estima humanas, se olharmos ao nosso redor, para a convivência
social, encontraremos a negação em alto grau dessa proposta.
Vivemos como adultos civilizados e portadores de padrões considerados
ótimos mediante o pacto social, conforme bem o descreveu o filósofo
inglês Thomas Hobbes (2002). Contudo, na prática, agimos como crianças,
com comportamentos birrentos, verificáveis na vaidade egotista de nossas
atividades comuns do trabalho e do relacionamento familiar e das decisões
de alta esfera das cúpulas governamentais. Atividades bélicas,
conchavos financeiros e outras ações consideradas fundamentais
são máscaras que justificam a prepotência infantil, que
revela pouca consciência acerca do desenvolvimento. É claro que
nos mantemos na rota da evolução, mas a questão é:
Em que velocidade? Não me refiro a uma corrida sem precedentes, mas a
uma acomodação conveniente, como a do personagem Peter Pan, quando,
diante do fato de ter de crescer, demonstra revolta e consegue manter-se infantilizado
na Terra do Nunca.
Contextualizar o homem no modelo de ciência que temos pode dar indícios
de que há um jogo constante de interesses, no qual valem os fins, sem
ater-se aos meios que os compõem, ou seja, as preocupações
quanto a pesquisas feitas para se obter títulos e ocupações
de fama e prestígio em detrimento de trabalhos relevantes reduzem a progressão
evolutiva do conhecimento. O que importa é manter-se no pódio,
independentemente de a corrida trazer ou não benefícios.
Outra forma de compreender esse conceito diz respeito aos milhares de livros
que são publicados anualmente, dos quais pequena porcentagem é
capaz de acrescentar valores e pontos produtivos para quem os lê, excluindo
o fato de melhorar o cabedal de palavras, quando o fazem!
Ressalto que não podemos fugir da metodologia, mas, sim, de seu exagerado
rigor. Conforme Rubem Alves (1984), fazer ciência pela ciência é
mero exercício, sem levar em conta o seu uso para fins que possam resolver
questões humanas de importância, como a miséria.
Mas como faremos ciência, esse instrumento vital para o desdobrar de
nossas questões mais fundamentais? No período ainda infantilizado
em que vivemos, agimos como quem deseja obter um prêmio no final, e poucos
estão destituídos desse desejo, que, segundo James Fadiman (1986),
provém do id freudiano e é residente no imenso oceano inconsciente,
que é nossa maior porção mental.
Outra questão é o desejo de nos mantermos presos ao modelo social
de convivência. Contudo, falta-nos maior compreensão sobre a nossa
vida interior. Pouco estudamos e compreendemos a respeito dos conflitos existenciais
pelos quais passamos continuamente e deles poderíamos extrair excelentes
lições de amadurecimento. Quando nos conhecemos melhor, encontramos
facilidade em entender o outro e, conseqüentemente, as relações
humanas.
Como verdadeiros adultos e educadores, entendemos que as transformações
trazem consigo dor e ansiedade, com as quais temos de lidar, diferentemente
das crianças, que preferem fugir ou tardar sua experiência ante
a possibilidade do menor desprazer.
Não é possível mudar e evoluir sem o caos, que em seguida
desaparece, dando origem à ordem novamente, que logo depois se desordena
e transforma tudo outra vez, em um ciclo espiral ininterrupto. Disse-nos Jesus:
“Não vim trazer a paz, mas a espada”. Ele era pregador do
amor ao próximo, mais por comportamento do que por palavras. Até
hoje não encontrei homem mais sensível e brilhante do que ele.
Seria sua frase uma contradição? A vida é uma contradição,
desde que compreendida como um benefício que proporciona progressão
e desenvolvimento.
Empreender a função de educador tem essa vasta responsabilidade.
Transformar a sociedade é uma meta audaciosa que precisa ser cumprida
pela melhoria da qualidade de vida.
Por mais que coloquemos nossas questões e interesses a favor da construção
do conhecimento, tornando-o, em certa medida, parcial, cabe a nós dobrar
os esforços para reduzirmos a interferência. Talvez, nesse caso,
a velocidade para o desenvolvimento tenha um ritmo adequado, que respeite cada
pessoa. Todavia, devemos cobrar e extrair do ser humano a sua participação
na ordem da evolução, propiciando espaço para o seu desenvolvimento
criativo.
Ao incorporarmos as práticas do pensamento crítico, da abertura
para a criatividade e de maior aceitação das diferenças
entre as pessoas, poderemos, pouco a pouco, crescer e fazer com que o novo adulto
participe das transformações necessárias. Recorro a Margareth
Wheatley (1999), que afirma: “Vivemos numa sociedade que acredita poder
definir o que é normal e então julgar tudo com base nesse padrão
fictício. Empenhamo-nos em nivelar as diferenças, em ajustar tudo
aos padrões, em definir parâmetros. No entanto, na vida, o novo
só pode aparecer como diferença. Se não estamos procurando
diferenças, não podemos ver que tudo mudou e, em conseqüência,
não temos condições de reagir a isso”. Veja o quanto
perdemos com nossa forma cega de encarar o dinamismo da vida.
Temos essa realidade acerca da construção do conhecimento para
administrar, levantando importante reflexão às instituições
de ensino, que são cruciais para a formação do ser humano.
Essa é uma tarefa árdua e carece de muita vontade e empenho. O
educador tem a responsabilidade de proporcionar aos alunos a discussão
sobre a limitação com a qual convivemos.
Afinal, o que queremos para nós? E em que velocidade?
Referências Bibliográficas
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo:
Cortez, 1984.
FADIMAN, James. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1986.
HOBBES, Tomas. O Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado
eclesiástico e civil. Sumaré: Martin Claret, 2002.
WHEATLEY, Margareth J. Liderança e a nova ciência. São
Paulo: Pensamento-Cultrix, 1999.