Roberto Carlos Simões Galvão*
A formação do ser humano começa na família. Ali,
tem início um processo de humanização e libertação;
é um caminho que busca fazer da criança um ser civilizado, e bem
cedo a escola participa desse processo.
Com o conhecimento adquirido na escola, o aluno se prepara para a vida. Passa
a ter o poder de se transformar e de modificar o mundo onde vive.
Educar é um ato que visa à convivência social, a cidadania
e a tomada de consciência política. A educação escolar,
além de ensinar o conhecimento científico, deve assumir a incumbência
de preparar as pessoas para o exercício da cidadania. A cidadania é
entendida como o acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade,
e ainda significa o exercício pleno dos direitos e deveres previstos
pela Constituição da República.
A educação para a cidadania pretende fazer de cada pessoa um
agente de transformação. Isso exige uma reflexão que possibilite
compreender as raízes históricas da situação de
miséria e exclusão em que vive boa parte da população.
A formação política, que tem no universo escolar um espaço
privilegiado, deve propor caminhos para mudar as situações de
opressão. Muito embora outros segmentos participem dessa formação,
como a família ou os meios de comunicação, não haverá
democracia substancial se inexistir essa responsabilidade propiciada, sobretudo,
pelo ambiente escolar.
O problema da grave concentração de renda no Brasil, a corrupção
que permeia os órgãos governamentais, a ingerência política
e o descaso histórico do governo brasileiro com os direitos fundamentais
de seus cidadãos são problemas que somente se encerrarão
com o aprimoramento da democracia, que se dará por meio do controle do
poder pelo povo.
Segundo Lakatos (1999):
Democracia é a filosofia ou sistema social que sustenta que o indivíduo,
apenas pela sua qualidade de pessoa humana, e sem consideração
às qualidades, posição, status, raça, religião,
ideologia ou patrimônio, deve participar dos assuntos da comunidade
e exercer nela a direção que proporcionalmente lhe corresponde.
Infelizmente, no Brasil, a participação do povo no poder se limita
a comparecer às urnas durante o processo eleitoral. A cultura de participação
é o primeiro passo para se consolidar uma democracia capaz de garantir
os direitos sociais de todos os cidadãos.
A formação de uma cultura democrática como a sonhada
pelo educador Pedro Demo nasce do conhecimento enquanto instrumento político
de libertação. Ela permitirá o desenvolvimento dos potenciais
de cada aluno-cidadão no meio social em que vive.
Quem hoje poderá pensar a problemática social brasileira sem
levar em conta o significado da escola nesse contexto?
De modo particular, a corrupção na administração
pública vem sendo apontada como um dos mais graves problemas atuais no
Brasil. A corrupção se encerra somente com o aprimoramento da
democracia. Por isso, cada cidadão deve acompanhar de perto a ação
de seus candidatos antes, durante e depois das eleições.
Considerando questões sociais como esta, Cecília Peruzzo adverte
que:
Estes são apenas alguns dos indicativos da importância histórica
da educação para a cidadania em sua contribuição
para alterações no campo da cultura política, por meio
da ampliação do espectro da participação política,
não só em nível macro do poder político nacional,
mas incrementando-a a partir do micro, da participação em nível
local, das organizações populares, e contribuindo para o processo
de democratização e ampliação da conquista de
direitos de cidadania.
A idéia de educação deve estar intimamente ligada às
de liberdade, democracia e cidadania. A educação não pode
preparar nada para a democracia a não ser que também seja democrática.
Seria contraditório ensinar a democracia no meio de instituições
de caráter autoritário.
Bóbbio (2002) afirma que “a democracia não se refere só
à ordem do poder público do Estado, mas deve existir em todas
as relações sociais, econômicas, políticas e culturais.
Começa na relação interindividual, passa pela família,
a escola e culmina no Estado. Uma sociedade democrática é aquela
que vai conseguindo democratizar todas as suas instituições e
práticas”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política. Rio de Janeiro:
Campus, 2002.
LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. 7.ed. São Paulo: Atlas,
1999.
PERUZZO, Cecília M. K. Comunicação nos movimentos populares:
a participação na construção da cidadania.
Petrópolis: Vozes, 1998.
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Roberto Carlos Simões Galvão
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