A Ásia sofre com seguidas epidemias de doenças mortais. Depois
de conter o surto de pneumonia asiática, agora o continente tem de se preocupar
com uma gripe transmitida ao ser humano pelos frangos, cuja exportação
tem grande peso na balança comercial daqueles países. Por isso,
todo cuidado é pouco para acabar com esse novo vírus, que está
derrubando índices estatísticos de algumas economias locais.
Pelo menos 20 milhões de aves já foram exterminadas na Ásia,
e o exército dos países afetados está de máscara,
pistolas de vacina e esguicho na mão para derrotar um inimigo comum:
o vírus da influenza aviária, popularmente conhecida como
gripe do frango. Ele já se espalhou por dez países asiáticos:
Japão, China, Coréia do Sul, Camboja, Indonésia, Laos,
Paquistão, Tailândia, Taiwan e Vietnã. Por enquanto, foi
comprovada a transmissão da gripe do frango a humanos somente no Vietnã
e na Tailândia, países onde o vírus causou a morte de quase
20 pessoas.

Pelo menos
20 milhões de aves já foram exterminadas na Ásia, região
onde a exportação de frango e derivados é muito importante
para a economia. |
A OMS (Organização Mundial da Saúde) advertiu que a gripe
do frango poderá matar milhões de pessoas se esse vírus,
que avança pela Ásia, combinar-se com uma forma de gripe humana
que também se desloca, atualmente, para o continente. No Vietnã,
já existe um caso em que se suspeita que o vírus tenha sido transmitido
de uma pessoa para outra, e não por meio das aves, como é o contágio
tradicional.
Barreiras
Frangos, patos, papagaios e até águias: nada pode transpor as
barreiras sanitárias que os países montaram para conter a doença.
O Japão fechou as fronteiras e não deixa nenhuma ave exótica
passar. A Austrália colocou cães farejadores nos aeroportos e
controla a carga de embarcações. Cingapura redobrou os cuidados
está verificando qualquer gaiola e proibindo a importação
de aves.
Mesmo assim, o vírus já chegou até o continente americano,
tendo sido também registrados casos da doença em frangos nos EUA.
Na Tailândia, centenas de cegonhas foram encontradas mortas contaminadas
pela gripe, que mostra que a enfermidade não se restringe apenas ao frango.
O governo do país disse que não vai destruir as aves restantes
dessas áreas para conter o problema. No Japão, o vírus
da gripe também foi encontrado em aves domésticas.
Brasil
No caso brasileiro, pelo menos na economia, a gripe do frango tem ajudado.
A Associação Paulista de Avicultura (APA) estima um crescimento
de 10% nas exportações brasileiras de frango e derivados este
ano. Em 2003, nosso país já assumiu a liderança entre os
exportadores desses produtos (em volume financeiro), ultrapassando os EUA. Em
quantidade exportada, ainda é o segundo.
Além de ocupar o espaço deixado pelos asiáticos, os produtores
brasileiros acreditam no aumento do consumo de frango também por causa
do aparecimento de casos do mal da vaca louca no rebanho bovino norte-americano.

[ notícia comentada ] |
Por Roger Raupp e Alexandre Loureiro, especialistas em biologia do portal.
A tão comentada gripe do frango, que há três meses
tem preocupado não só o continente asiático como todo o
mundo, tem como causador o vírus Haemophilus influenza, que é
o mesmo da gripe humana comum. A diferença entre as duas formas de manifestação
está no tipo de vírus e no animal afetado. O vírus influenza
apresenta os tipos A, B e C. Os dois últimos são parasitas infectantes
exclusivamente de humanos, e o tipo A, além de humanos, afeta vários
outras espécies animais. O vírus caracteriza-se pela transmissão
aérea, em gotículas de expectoração. Após
o contágio, se manifesta por meio de febre, dificuldade respiratória,
mal-estar e dores musculares e ósseas.
O tipo A apresenta inúmeras linhagens. O atual surto de gripe do frango
é causado pela H5N1. A gripe aviária foi primeiramente identificada
na Itália no início do século XX. No entanto, a espécie
causadora da atual epidemia foi identificada e isolada somente no ano de 1997
em Hong Kong. Além do tipo H5N1, também já são conhecidas
outras cepas causadoras da doença em aves, como a H9N2, que provocou,
no início de 2003, um surto nos Países Baixos, e a H7N7, responsável
pela doença em 1999 e fevereiro de 2003 também em Hong Kong. Essas
linhagens são comuns entre aves migratórias e acredita-se que
elas sejam as principais disseminadoras da doença, o que dificulta também
um controle efetivo sobre o vírus. O influenza aviário
é facilmente transmitido de ave a ave, pois é eliminado pelas
fezes de animais infectados, além de via oral. A transmissão ao
homem é principalmente do tipo ocupacional, e a maioria dos casos de
contaminação e mortes ocorridos até o momento na Ásia
é de pessoas que mantinham contato direto com os animais doentes. O contágio
entre humanos ainda não é comprovado. Profissionais de saúde
que mantiveram contato com pessoas contaminadas não apresentaram nenhum
sinal de infecção.
No homem, a gripe se manifesta como a gripe humana comum e evolui para uma
doença respiratória aguda, podendo levar à morte. Já
nas aves os sintomas são perda de peso por falta de apetite; interrupção
do crescimento, o que provoca um grande prejuízo econômico; sonolência;
respiração ruidosa, realizada com dificuldade e com a boca ao
invés de com as narinas; e perda de penas.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) agora possui uma
nova preocupação. Além de tentar erradicar a doença
nos países que apresentam o problema, está prestes a se deparar
com o encontro do vírus de linhagem H5N1 com o de H3N2, responsável
pela gripe humana comum. O contato poderia provocar uma mutação
de alta patogenicidade em alguns indivíduos virais. Isso poderia ter
um resultado ainda mais devastador do que o observado no continente asiático,
transformando uma epidemia numa pandemia — como ocorreu no encontro do
agente da gripe espanhola com o da gripe de Hong Kong, o que causou a morte
de cerca de 49 mil pessoas em 1968. Esse temido supervírus, segundo cientistas
da OMS, reuniria características como a capacidade de provocar a doença
do H5N1 e o grande potencial infeccioso do H3N2.
Para afastar essa iminente pandemia, a OMS publicou algumas medidas preventivas,
que podem minimizar os riscos à saúde pública em todo o
mundo. Entre essas medidas, estão:
- Prioridade na interrupção do desenvolvimento do vírus
entre as aves domésticas, o que requer, infelizmente, o sacrifício
de todas as que tiverem possibilidade de contaminação;
- Vacinação das pessoas que apresentam alto risco de exposição
ao vírus com vacinas contra a influenza humana existentes;
- Fornecimento de equipamento e roupas adequados, assim como tratamento
preventivo com antivirais aos trabalhadores que lidam diretamente com aves;
- Isolamento imediato das áreas afetadas, com rápida avaliação
dos animais e dos vírus em circulação para que as medidas
preventivas sejam adequadas a cada tipo de vírus da influenza;
- Alerta das vigilâncias sanitárias e epidemiológicas
de todos os países para qualquer caso suspeito e inspeção
e controle de algumas amostras de sangue das aves migratórias que visitam
a região anualmente.
|