JUSTIFICATIVA
Um fato é inegável: cada dia mais os meios comunicação
se incorporam, indistintamente, ao cotidiano de todas as camadas
sociais da população. Fotos exibidas em painéis
e revistas, cenas de novelas, noticiários televisivos ou
radiofônicos, programas de auditório, propagandas,
clipes e ritmos musicais não nos passam despercebidos. Muito
pelo contrário: são tão absorvidos, que, além
de nos ocuparem por horas, acabam, ainda, por virar temas de muitas
de nossas conversas diárias. Somos uma multidão de
mulheres, homens, jovens e idosos, que em nossas casas, locais de
trabalho, escolas ou rodas de amigos, mostramos interesse por saber
detalhes da vida pessoal dos astros, discordamos entre nós
sobre atitudes ou pronunciamento emitido por eles... Não
raras são as vezes que os tomamos como parâmetro de
comportamento, gosto e valores. Em grau maior ou menor, gostamos
de parecer com eles, de pensar como eles (não nos esqueçamos
de que também os apresentadores e comentaristas de noticiários
"fazem nossas cabeças"!... )
Seria essa uma atitude própria somente dos pobres e incultos?
Engano. Profissionais da educação se relacionam intimamente
com os meios de comunicação, tanto quanto os alunos,
apenas não demonstram. Grande maioria deles faz de conta
que não vê televisão, que não compra
revistas populares, que não ouve as mesmas emissoras que
tocam sempre o mesmo tipo de música, que não "navega"
por sites da internet com a mesma curiosidade e malícia de
todo cidadão comum...São unânimes ao afirmar,
por exemplo, que televisão é prejudicial para o desenvolvimento
saudável das crianças...
E por que isso acontece? Quais motivos justificam o fazer de conta
de que são tão diferentes das outras pessoas? Porque,
entre tantos outros fatores, foram formados num modelo de educação
que apenas privilegiava uma linguagem - a erudita, chamada livresca.
Depois, seus cursos de formação para o magistério
lhes ensinou dar aula segundo o mesmo princípio. Tudo o que
fugisse dele, deveria ser considerado de pouco valor, desprestigiado
e mantido fora do espaço escolar. Dá para começar
a entender, então, porque esses tantos sentem vergonha -
principalmente diante de discípulos ou gente que julga de
elite - de admitir que se entretêm com algo que vai além
da leitura de bons livros ou idas a teatro!...
E por que isso merece destaque? Que problema se levantam, a partir
dessa constatação?
Vários. Primeiro que estão mantendo uma farsa (esta
sim, prejudicial para o desenvolvimento sadio das crianças
e jovens!); demonstram estar em desacordo (o que é muito
grave!) com os postulados da educação nacional que
se atribui o papel de, em sintonia com a atualidade, promover um
ensino vivo, significativo, que possibilite a formação
de pessoas esclarecidas, atuantes; revelam desconhecer que é
impossível formar para a cidadania sem educar para a comunicação,
para a compreensão dos eficazes mecanismos de funcionamento
das mídias.
Porém, felizmente, podemos afirmar que mudanças já
estão acontecendo. De um lado, a própria Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Brasileira - refletindo, até
certo ponto, o pensamento de grandes pensadores nacionais - declara
que uma escola competente é aquela que promove o conhecimento
das várias linguagens que norteiam a era da informação.
É uma escola que se interessa por formar pessoas que compreendam
e dominem os sistemas de produção de informação
e, conseqüentemente, estejam melhor preparadas para atuarem
de forma mais responsável com a vida em sociedade. De outro,
o Ministério da Educação reconhece o surgimento
de um novo campo - o da Educomunicação - e o de um
novo profissional - o Educomunicador - que atua na formação
de ecossistemas comunicacionais, promotores do bom uso das mídias.
Uma escola cidadã sabe, por conseqüência, que
educação resulta de investimento permanente na formação
de seu quadro profissional. Reconhece, por conseguinte, que os resultados
esperados não são imediatos, afinal, está reformulando
uma pedagogia sedimentada durante décadas...
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