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Rei Momo: a inversão de papéis sociais
marca o carnaval desde o Império Romano. |
Vai entender como começou o carnaval... O que se sabe
é que sua origem remonta à
Antiguidade. Ele é tão antigo que ninguém sabe ao certo
como nasceu. Tudo indica que as raízes de nossa folia foram plantadas
em festas populares anteriores à Era Cristã. Há quem veja
as celebrações egípcias em agradecimento à colheita
farta como uma espécie de embrião dos primeiros carnavais. Na
terra dos faraós, tais homenagens eram dedicadas à Ísis,
deusa da fertilidade. Há registros também de povos que pintavam
o corpo e usavam máscaras para espantar os demônios e evitar más
colheitas.
Alguns dos elementos mais marcantes do carnaval têm seus
ancestrais em Roma e na Grécia. Novamente, o motivo das festividades
era a adoração de divindades. Dionísio, deus do vinho,
por exemplo, era festejado por gregos e romanos. Conhecido como Baco entre os
romanos, ele servia de inspiração à farra desmesurada e
ao erotismo do período momesco. Aliás, você já se
perguntou por que o carnaval ganhou esse nome gozado? Gozado mesmo. Momo era
o símbolo da irreverência e do delírio.
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Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano
(Sonho de um carnaval, Chico Buarque)
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval,
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento do sonho
Pra fazer a fantasia de rei,
ou pirata, ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira
(A Felicidade, Tom Jobim/Vinícius
de Moraes)
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Na Roma Antiga, todos os anos, havia enormes festejos em honra
ao deus do tempo, Saturno. Eram as saturnais, que envolviam pessoas de todas
as classes, da nobreza aos escravos. Nessa ocasião, um soldado era coroado
Rei Momo. Por dias a fio, ofereciam-lhe banquetes, bebidas, diversões
a toda prova. Mas a alegria durava pouco... Ao final da festa, ele era brutalmente
sacrificado. Era a "quarta-feira de cinzas" do Império Romano,
a ruptura que marcava o retorno à rotina e aos papéis sociais
de origem.
Sinônimo de fartura e excessos de toda a (des)ordem, a
Igreja combateu os festejos carnavalescos e tentou, em vão, impedir as
saturnais, contrárias à moral cristã. Em 590, porém,
Gregório I resolveu oficializar o carnaval no calendário eclesiástico.
Assim, durante toda a Idade Média, os festejos passaram a acontecer entre
o Dia dos Reis Magos, em janeiro, até o início da Quaresma - período
de quarenta dias até a Páscoa reservado ao jejum e às orações.
E a quarta-feira de cinzas tornou-se o dia do adeus aos prazeres da carne ("carnevalle",
em dialeto milanês) e à ilusão da inversão dos papéis
sociais.
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