1949: A revolução socialista de Mao Tsé-tung
O povo chinês, que havia sido saqueado,
dividido e humilhado pelas chamadas potências imperialistas durante o
século XIX e XX, lutou contra a sangrenta invasão japonesa, que
chegou a ocupar mais da metade do território chinês nos anos 30
e 40 do século XX. Por isso, os comunistas liderados por Mao Tsé-tung
acabaram por receber grande apoio da população, que via o esforço
dos militantes comunistas como uma luta antiimperialista que devolveria à
China o seu lugar de grandiosidade, ocupado no passado. No imaginário
da população chinesa, era como se uma nova dinastia imperial,
jovem e forte, chegasse ao poder.
Foto:
National Arquives (196235) |
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Mao Tsé-tung discursando para correligionários em 12 de junho
de 1944. |
Foto:
Enciclopédia Delta |
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Mao Tsé-tung — o Grande Timoneiro |
Foto:
Enciclopédia Delta |
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Figura de Mao Tsé-tung caracterizando o culto ao antigo líder
chinês. |
Foto:
National Archives (194418) |
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Multidão em um espetáculo esportivo realizado em 23 de fevereiro
de 1972. |
Após contribuírem com a expulsão
dos japoneses, os “comunistas” ainda tiveram que lutar contra os
“nacionalistas” chineses, liderados por Chiang Kai-shek, que comandava
o Kuomintang — Partido Nacionalista da China. Com a derrota, os nacionalistas
acabaram por fugir para a Ilha de Formosa, onde, em 8 de dezembro de 1949, fundaram
a cidade de Taiwan.
O que ocorreu no período em que a China
esteve nas mãos dos comunistas? O que os comunistas fizeram, em 1949,
para reconstruir um país de aproximadamente 540 milhões de habitantes,
explorado pelos ocidentais e dominado pelos vizinhos japoneses durantes anos?
Uma das primeiras tentativas de reconstrução
foi a elevação da produção agrícola. Nesse
sentido, pode-se considerar que houve sucesso, pois, nos primeiros sete anos
da Revolução Chinesa (1949-1956), a produção agrícola
foi ampliada em 70%.
Mas o planejamento — uma característica
dos países que passaram por regimes socialistas — não parou
na agricultura, seguiu para as áreas da educação e da indústria.
A partir de 1956, com o fim da relação
amistosa com os russos, cessou a ajuda material (equipamentos e tecnologia)
e financeira que vinha de Moscou. Com isso, Mao Tsé-tung, o Grande Timoneiro,
teve que comandar a economia chinesa com seus próprios recursos.
Segundo o historiador britânico Eric
Hobsbawn, o fim da ajuda soviética “causou o calvário do
povo chinês, assinalado por três estações principais
da cruz: a ultra-rápida coletivização da agricultura camponesa
em 1955-57; o ‘Grande Salto Avante’ da indústria em 1958,
seguido pela grande fome de 1959-1961, provavelmente a maior do século
XX; e os dez anos da Revolução Cultural, que acabaram com a morte
de Mao, em 1976.” (HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 452.)
Nessa fase, que durou aproximadamente 20 anos,
entre 1956-1976, o governo comunista de Mao Tsé-tung elaborou e colocou
em prática três grandes planos de desenvolvimento socioeconômico:
a coletivização da agricultura (1955-1957), o Grande Salto Avante
(1958-1960) e a Revolução Cultural (1966-1969).
O primeiro grande projeto, a coletivização
da sociedade chinesa, gerou em poucos meses o espantoso número de 24
mil comunas populares, nas quais a vida (inclusive a familiar, como destaca
Hobsbawn) passou por um processo radical de socialização coletiva
— as escolas e refeitórios foram coletivizados, o que possibilitava
que as mulheres fossem trabalhar nos campos. Passaram a ser oferecidos seis
serviços básicos aos cidadãos chineses, para substituição
da renda financeira (salários e renda oriunda de venda): alimentação,
assistência médica, educação, funeral, corte de cabelo
e cinema.
O passo seguinte, a implantação
do projeto Grande Salto Avante (ou Grande Salto para Frente) tinha por objetivo
industrializar maciçamente a economia chinesa e gerar finalmente a igualdade
socialista, tão almejada.
O fracasso dessas duas iniciativas de Mao
foi tão retumbante que em 1959 e 1960 a China conheceu uma das maiores
crises de alimentos da História mundial, gerando a morte de milhões
de camponeses, bem como a desorganização da sociedade milenar
chinesa.
A conseqüência desse fracasso foi
o isolamento de Mao e seu afastamento das políticas internas do país.
Porém, logo o Grande Timoneiro buscou voltar a comandar o país
e começou a denunciar a existência de “idéias burguesas”
e “mentalidade capitalista”, tanto no partido quanto na sociedade
chinesa. Para combatê-las, Mao propôs, em 1966, uma Revolução
Cultural, ou seja, o fim dessa mentalidade (burguesa) na China.
Na prática, a Revolução Cultural Chinesa assistiu à
formação das Guardas Vermelhas — milícias formadas
por jovens doutrinados pelo chamado Livro Vermelho — comandadas pela mulher
de Mao, Jiang Qing. Formadas por quase 20 milhões de jovens estudantes,
as Guardas Vermelhas perseguiram e mataram milhares de professores, trabalhadores
e principalmente os líderes do Partido Comunista que se opuseram a Mao.
Os números oficiais indicam a morte de 34 mil pessoas, mas analistas
do caso chinês apontam que milhões de pessoas foram mortas na Revolução
Cultural.
Além de perseguir pessoas, essa revolução
queimou livros considerados perigosos e proibiu a execução de
peças teatrais que não condiziam com a luta proletária
do comunismo de Mao, tal como Romeu e Julieta, de Shakespeare.
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