O futebol pelo social
Na carona da popularidade vinda do futebol, grandes craques
realizam projetos sociais em parceria com instituições
públicas e privadas, mostrando que a preocupação
com a comunidade vai além da alegria que nasce dos gols.
Além deles, a Fifa também investe no social e empresas
patrocinadoras do esporte mundial têm evitado parcerias com
fornecedores que utilizam o trabalho infantil ou poluem o meio ambiente.
Tudo em nome da responsabilidade social e também do marketing
que advém dessas iniciativas.
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Uma das atividades de
Fundação Gol de Letra, entidade dos craques Raí
e Leonardo, que investe na formação de crianças
e adolescentes.
Foto: www.goldeletra.org.br |
Você provavelmente já ouviu falar na Fundação
Gol de Letra. Não? E nos craques Raí e Leonardo...
ah, desses sim. Pois é, eles são os criadores da Fundação
Gol de Letra, entidade que investe na formação de
crianças e adolescentes capazes de transformar suas realidades,
garantindo-lhes o direito a educação, cultura e assistência
social. E esse é apenas um dos exemplos que surgiram do futebol,
mas utilizando-o somente como pontapé inicial para um trabalho
em longo prazo que visa, primordialmente, ao bem-estar social de
crianças e jovens carentes do país. "Na Fundação,
o futebol não é o mais importante. Todas as atividades
físicas têm espaços iguais. Nossa preocupação
não é só formar atletas, mas cidadãos",
explica Leonardo. O projeto é um sucesso desde que foi lançado,
em 1998. A Fundação Gol de Letra é reconhecida
com uma das 30 instituições-modelo em pesquisa da
Unesco publicada no livro Cultivando Vida, Desarmando Violências.
"A Fundação nasceu de uma amizade e esse é
o espírito do projeto. É um casamento, que já
nos rendeu 600 filhos", brinca o craque.
Trabalhos como esse envolvem a comunidade, reforçam o papel
da escola e aumentam a auto-estima dos participantes por meio de
atividades que valorizam a sua cultura, a criatividade, a arte e
o esporte. A Fifa também acredita que esse é um dos
caminhos para melhorar a qualidade de vida de jovens e crianças
no mundo inteiro, especialmente nos países em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil. Uma das ações da Fifa,
em parceria com a SOS Children's Villages, é a implantação
das Vilas SOS para crianças e jovens, mantidas com recursos
da própria federação internacional e que têm
como principal atividade o futebol. A proposta foi feita pelo ex-presidente
da Fifa, João Havelange, em 1994, quando as vilas foram nomeadas
as principais beneficiárias do fundo da juventude da federação.
Depois desse primeiro passo, um ano mais tarde, foi anunciado que
o projeto teria alcance mundial. Nesse projeto, são nomeados
embaixadores, ou seja, craques do futebol em seus países
de origem que impulsionam o projeto e servem como exemplo para outras
iniciativas do gênero. No Brasil, os embaixadores são
o goleiro Carlos Germano e o jogador Savio.
Atenção internacional
Apesar de todos os esforços, ainda é difícil
emplacar projetos sociais sem uma boa dose de dedicação,
argumentação e, claro, parcerias, já que os
recursos financeiros são escassos.
Para chamar a atenção internacional, a Fifa também
firmou parceria com o Unicef e promoveu uma convenção
para lutar pelos direitos das crianças e dos adolescentes.
Além disso, essas instituições desenvolveram
uma linha de produtos exclusiva para arrecadar fundos para projetos
sociais, que vai de camisetas e mochilas à CDs e bonés.
Grandes craques internacionais como Ronaldo e Zamorano também
estão envolvidos com as ações sociais da Fifa
e do Unicenf.
A Fifa tem se dedicado com empenho às causas sociais. Prova
disso é que, neste mês, o presidente Joseph S. Blatter
recebeu o título de Humanista Internacional do Ano, em uma
cerimônia especial realizada em Saravejo. A homenagem foi
concedida pela Liga Internacional dos Humanistas, que premiou Blatter
por "sua contribuição excepcional à paz,
à amizade e à tolerância entre os povos, nações
e Estados, em especial às ações voltadas aos
jovens por meio dos esportes". A Liga Internacional dos Humanistas
é uma organização não-governamental,
sem fins lucrativos, criada na Filadélfia em 1974 por um
grupo de vencedores do prêmio Nobel.
Será que pega?
O ex-ministro dos Esportes e Turismo do Brasil, Carlos Melles,
antes de deixar o governo, em abril deste ano, anunciou que o governo
começou a discutir uma medida provisória para aplicar
uma Lei de Responsabilidade Social no futebol. Depois dos fatos
revelados pela CPI do Futebol, Melles afirmou que é necessária
uma reformulação no futebol, com "gestões
transparentes e claras". Segundo ele, o governo esperava apenas
o relatório final da CPI do Futebol para tomar as primeiras
iniciativas de reestruturação do setor e, quando o
ministro recebesse o documento dos senadores, apresentaria a comissão
encarregada de formular a medida provisória, batizada de
Lei de Responsabilidade Social. A intenção é
fazer com que o futebol passe a ser também um criador de
empregos para a população carente.
De olho no consumidor
Antes mesmo de 2001 ter sido decretado o ano do voluntariado, já
se podia prever que o chamado terceiro setor movimentaria o Brasil.
Embora algumas iniciativas de responsabilidade social já
estivessem acontecendo há alguns anos, foi a partir de 2000
que o assunto ganhou as páginas dos jornais e que o consumidor
realmente começou a tomar consciência do que era essa
onda de empresas, instituições e ONGs trabalhando
pela sociedade.
Isso significa dizer que, hoje, um produto com um selo garantindo
que ele não polui o meio ambiente ou que, ao adquiri-lo,
o consumidor estará contribuindo com uma causa social relevante
tem muito mais chances de ir parar no carrinho de compras. Mas essa
atitude social das empresas não é apenas por benevolência.
Elas descobriram essa preocupação cada vez mais evidente
das pessoas de proteger o planeta, de consumir produtos saudáveis
e de utilizar serviços de empresas comprometidas em melhorar
a sociedade. Isso é lucro, é marketing social. Faz
bem para a empresa, melhor ainda para a sociedade.
No caso do futebol, a Nike é um bom exemplo. Depois de sofrer
protestos alegando que a empresa tinha fornecedores que utilizavam
trabalho infantil na fabricação de bolas, foram tomadas
providências para minimizar o estrago da notícia aos
ouvidos de seus consumidores no mundo todo. Agora, existe um controle
rigoroso nesse aspecto e é a própria empresa que fornece
os materiais para a confecção de seus produtos.
Uma pesquisa mundial realizada pela The Millennium Poll on Corporate
Social Responsibility em 23 países e 6 continentes, no ano
passado, mostrou que mais de 25% dos entrevistados prestigiaram
ou puniram empresas com base na sua performance social e 76% dos
brasileiros preferem marcas e produtos de empresas envolvidas em
ações sociais.
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