Não
basta dar aula, tem que ser ético
Para o psiquiatra Içami Tiba,
o professor que apenas "dá sua aula" é
como um varredor que joga no chão seu maço de
cigarros
O país está doente. A doença? Para o
psiquiatra Içami Tiba, é a falta de ética.
Durante a palestra "Ética na Educação
Formal e Não-Formal", nesta sexta-feira na Educar
2001, ele expôs os fundamentos de sua Teoria da Integração
Relacional, que pretende orientar os professores a tratar
o tema. Vestindo a camisa de educador, afirma: "Nós
temos uma tarefa muito maior, que é ensinar os filhos
dos outros a conviver." E que debater ética em
sala de aula é cuidar da "saúde social"
dos alunos.
Içami Tiba enfatizou que a Ética não
é apenas uma "teoria filosófica" e
que analisar com rigor os próprios comportamentos ajuda
a superar as limitações em relações
pessoais e no trabalho. Ele convidou os educadores a avaliar
sua vida profissional e disse que o professor que apenas cumpre
minimamente suas obrigações não "está
sendo ético".
Vitória de Pirro
Ele comparou um professor que "dá apenas sua
aula porque é pago" a um varredor que só
varre para frente e, assim que termina de fumar seus cigarros,
joga o maço no chão e o deixa para trás.
Comparou-o ainda a um general que só consegue vitórias
que não compensam. "Muitas vezes nos empenhamos
em tarefas que nos levam à vitória de Pirro",
disse, em alusão ao rei que derrotou os romanos na
Batalha de Asculum, mas à custa de tantas baixas que
se convenceu de que sua guerra não valia a pena.
Sobre as dificuldades de transmitir valores éticos,
Içami Tiba disse que o grande desafio é conseguir
a consciência dos alunos para a importância de
cultivar comportamentos éticos. Sem alunos, segundo
Tiba, o professor fica como "um beija-flor tentando apagar
um incêndio na floresta". Ele admitiu ser árdua
a tarefa e que a maneira de enfrentá-la é "quebrando
hierarquias".
Assembléia permanente
Para tanto, seria preciso se associar aos alunos, "ter
o espírito de quem quer acompanhá-los",
ajudá-los a formar grupos de trabalho e não
os intimar a tratar o tema "com um olhar de cima para
baixo". Ele sugere que os professores se mobilizem para
discutir o tema, assim como os alunos. "Os alunos vivem
em assembléia permanente para criticar o comportamento
dos professores", ironizou.
Içami Tiba também alertou para não se
confundir ética com valores morais. A moral seria a
base dos comportamentos da sociedade, que não necessariamente
seriam éticos. Para ilustrar sua idéia, ele
usa um exemplo drástico: a amputação
do clitóris de milhões de meninas, praticada
em diversos países africanos. "Não adiantam
valores morais, se eles não são éticos",
disse. "A ética relacional é muito mais
do que os padrões de comportamento que inventamos",
concluiu.
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Vitor Casimiro
Exclusivo para o Educacional
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