Por Guilherme Prendin
MEC divulga resultados do exame que avaliou a qualidade de
mais de 5 mil cursos de graduação em todo o país.
No dia 9 de agosto de 2006, o Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão
ligado ao Ministério da Educação (MEC) divulgou o resultado
do teste que avaliou a qualidade de mais de 5 mil cursos superiores do Brasil.
O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), realizado no final do
ano passado, teve a participação de 277.476 alunos de 5.511 cursos
de diversas instituições de Ensino Superior do Brasil, tanto públicas
como privadas.
O substituto do extinto “Provão” pôs à prova,
literalmente, a capacidade dos estudantes brasileiros e mostrou, por meio de
resultados práticos, a quantas anda o nível de conhecimento de
nossos alunos. A edição 2005 do Enade avaliou os universitários
ingressantes (do primeiro ano) e os concluintes (do último ano) dos cursos
de Arquitetura e Urbanismo, Biologia, Ciências Sociais, Computação,
Engenharias, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras, Matemática,
Pedagogia e Química. Foram levados em consideração a nota
da prova e o IDD, indicador de diferença entre o índice esperado
e o desempenho alcançado pelos alunos.
O Inep utilizou uma escala de 1 a 5 para classificar o nível de qualidade
dos cursos: 1 e 2 indicariam qualidade baixa; 3, média; e 4 e 5, alta.
Os resultados finais apontaram que a maioria dos cursos avaliados (53%) obtiveram
conceito médio, 27% atingiram conceito alto e 20% ficaram abaixo das
expectativas, com conceito baixo. Estes últimos, inclusive, passarão
no futuro por uma espécie de avaliação in loco do MEC.
Nesse caso, a instituição deverá assinar um termo de compromisso
para melhorar a qualidade do ensino que oferece. Caso isso não ocorra,
o curso poderá ser extinto. O Inep informou também que modificou
a forma de selecionar os avaliadores. Até 2005, eles eram indicados.
Agora, foi criado um cadastro. Aproximadamente 11 mil já se inscreveram,
sendo a maior parte doutores. Segundo a entidade, pelo menos 3 mil serão
selecionados para fazer parte do banco de avaliadores.
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Foto: arquivo pessoal |
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Jorge Werthein,
doutor em educação pela Universidade de Stanford (EUA) e
ex-representante da Unesco no Brasil: "ainda não conseguimos
atingir o
nível esperado na educação brasileira" |
O conteúdo das provas do Enade foi baseado
nas diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação
(CNE). Cada área de conhecimento teve uma prova específica, e
10 questões de formação geral foram aplicadas a todos os
participantes. “Essas questões, por serem respondidas por estudantes
de todas as áreas, testaram competências importantes para qualquer
profissional: as capacidades de análise, síntese, leitura, interpretação
e expressão escrita”, explica o diretor de Estatísticas
e Avaliação da Educação Superior do Inep, Dilvo
Ristoff. Em relação ao exame anterior, o segundo Enade teve um
significativo crescimento no número de cursos avaliados: de 2.184 em
2004 para 5.511 em 2005. Houve também um aumento de áreas, de
13 para 20, com 46 subáreas de Engenharia.
O doutor em Educação pela Universidade de Stanford (EUA) e ex-representante
da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, considerou fraco o desempenho atingido
no teste. “Foi muito pobre, não surpreendeu porque o que essa avaliação
mostra — e é muito importante que ela tenha sido realizada —
é que temos um problema muito sério, que vem de décadas,
já que não conseguimos atingir o nível de qualidade esperado
na educação brasileira”, diz Werthein. A educadora e professora
da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Elisa Dalla Bona também
fez críticas aos resultados do Enade. “Não há motivos
para comemorar. Ter somente 27% dos cursos superiores do país com conceito
alto é muito pouco. Ainda há muito a melhorar”, opina.
O educador e articulista do portal Celso Antunes afirmou que considera “salutar”
as políticas de avaliação do ensino, mas fez restrições
quanto ao atual modelo de avaliação do Enade. “Quando passamos
do Provão para o Enade, houve uma perda indiscutível de qualidade,
mas ainda assim, de maneira geral, a minha concepção sobre uma
política avaliativa é favorável”, disse. Quanto aos
resultados, Antunes fez coro com Elisa Dalla Bona e Jorge Werthein. “A
qualidade da educação no Brasil não caiu nos últimos
20 anos. Os resultados oscilaram um pouco, mas não houve queda. De qualquer
forma, ainda é um nível muito baixo. O Brasil tem muito a melhorar.
E os resultados desse Enade comprovaram essa realidade”, comentou.
Enade 2005 em números:
- 277.476 estudantes de instituições de Ensino Superior públicas e privadas fizeram as provas;
- 5.511 cursos foram avaliados;
- 20 áreas de conhecimento foram testadas;
- 53% dos cursos avaliados tiveram desempenho considerado médio (3, numa escala de 1 a 5);
- 27% dos cursos tiveram desempenho considerado alto (4 e 5, numa escala de 1 a 5);
- 20% dos cursos tiveram desempenho considerado baixo (1 e 2, numa escala de 1 a 5);
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