Basquete Blues mostra como o
esporte muda a vida de jovens nos EUA
Documentário acompanhou a trajetória de dois
adolescentes do gueto à universidade.
Na terra do "Tio Sam", quem serve de modelo para
a molecada dos bairros pobres são os astros da NBA,
a liga de basquete profissional americana. Ao contrário
dos garotos brasileiros, que almejam vestir a camisa da seleção
canarinha, eles não vêm da várzea ou do
campinho de pelada.
Quem chega à NBA já saiu ou sairá em
breve de uma universidade com o canudo debaixo do braço.
O recado é curto e grosso: para se dar bem na vida
é preciso estudar, mesmo que se pretenda passar o resto
dos dias dando saltos e encestando uma bola de basquete.
O filme Basquete Blues desvenda como funciona esse
sistema de "subir na vida", cujo elevador é
o esporte. Os Estados Unidos têm fama de país
das oportunidades. Quem tiver talento e trabalhar duro vai
alcançar o seu lugar ao sol: sucesso, glória
e dólares. O documentário mostra que o sonho
americano, ao menos no esporte, é para poucos.
Até na NBA, que tem o maior campeonato do mundo na
modalidade, a peneira é cruel. No campeonato universitário,
que é o trampolim de acesso à NBA, há
cerca de 50 mil atletas inscritos. A cada ano, somente 25
jovens para quem o basquete significa tudo vão ter
a chance de jogar com seus ídolos. Mas as semelhanças
com a realidade brasileira encerram-se aí.
Mesmo que entrar em uma equipe profissional não passe
de um sonho infantil, a partida já está ganha.
Os jovens já arremessaram a pobreza para longe e enterraram
para sempre a vida nos guetos. O tempo que passaram treinando
não foi em vão. É o desempenho nas quadras
da vizinhança que dá aos jovens bolsas de estudo
para que defendam as cores de uma universidade no campeonato
nacional.
O cineasta Steve James acompanhou a vida de William Gates
e Arthur Agee entre 1986 e 1991. Nesses cinco anos, registrou
cada problema que eles enfrentaram em casa, na escola e na
rua em 250 horas de fita. Eles tinham entre 13 e 14 anos na
época. Foram descobertos por um "olheiro"
e convidados a estudar na Saint Joseph School, uma escola
católica das mais tradicionais de Chicago.
William garantiu uma vaga de titular no time da escola até
seguir para a Universidade de Marquette, em Wisconsin. O interesse
que tinha pelo basquete, trocou por boas perspectivas de arrumar
emprego na área de comunicação e mídia.
Arthur penou um pouco mais. Foi cortado da equipe e teve que
provar que era fera no time de uma escola pública.
Mas ele perseverou e concluiu o curso de Administração
na Universidade do Arkansas.
Ao sair da faculdade foi parar em uma liga profissional de
basquete no Canadá. Vestiu a camisa do Winnipeg Cyclones.
Hoje Arthur se esforça para fazer decolar um projeto
de ajuda a jovens carentes através do basquete.
Nenhum deles conseguiu se tornar cestinha da NBA. Mas se
livraram de uma fria. O melhor amigo de Arthur tornou-se traficante
no gueto e acabou preso.
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Basquete Blues (Hoop Dreams,
EUA, 1994, 2h45) é um documentário de Steve
James e conta a vida de William Gates e Arthur Agee, da periferia
de Chigaco ao diploma. O filme serviu de base para o livro
Basquete Blues (Companhia das Letras, 344 páginas,
R$ 33,00), do jornalista Ben Joravsky.
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