Mesmo tendo se tornado independente da França em 1804 e sido a primeira colônia da América Latina a conquistar a liberdade junto às metrópoles europeias, o Haiti só teve eleições diretas para presidente em 1957, quando o médico sanitarista François Duvalier foi eleito. Querido pelo povo haitiano por sua luta contra a malária, um mal que assolava o país, Duvalier foi apelidado de Papa Doc, ou seja, Papai Médico.
Mas o encanto durou pouco: o “papai médico” logo mostrou sua face de monstro e passou a implantar uma ditadura ferrenha que perseguia, torturava e matava dissidentes e proibia partidos políticos de oposição. Em 1961 se reelegeu à custa de corrupção e fraudes e em 1964 proclamou-se presidente vitalício. Para conseguir tudo isso, montou um verdadeiro batalhão do terror: os tontons-macoutes, que no imaginário popular da ilha é uma forma de bicho-papão. O saldo dessa fase, que durou até 1971, foi de aproximadamente 30 mil mortos, 15 mil desaparecidos e uma enorme dívida externa. Mas quem pensava que o pesadelo chamado Papa Doc tinha terminado enganou-se. Em seu lugar, acabou assumindo seu filho, Baby Doc, que continuou com a mesma política devastadora em todos os sentidos tanto econômica quanto socialmente. Na fase Baby Doc (1971-1986), houve uma fuga de, aproximadamente, meio milhão de haitianos para países vizinhos como Cuba, República Dominicana e também para os EUA.
Com o fim da tragédia imposta pela família Duvalier, o Haiti passou por um pequeno período turbulento (1986-1990) até que conseguiu eleger democraticamente o padre católico Jean-Bertrand Aristide, que no ano seguinte à eleição (1990) seria deposto por um golpe militar. Aí começava mais um calvário na vida do povo do Haiti. Destituído em 1991, Aristide foi recolocado no poder pelos norte-americanos para que pudesse terminar o mandato para o qual fora legalmente eleito (1990-1996). Seu sucessor foi René Préval cujo mandato terminou em 2001. Ele foi substituído por Aristide, que obtivera a reeleição e voltava ao poder. Em 2004, porém, foi novamente confrontado por oposicionistas e acabou renunciando ao cargo, jogando o Haiti na mais profunda crise econômica e política de sua história que desembocaria na Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) liderada pelo Brasil.
As crises políticas dos anos 90, como o golpe que destituiu Aristide (1991) e sua renúncia em 2004, provocaram um retrocesso violento na já frágil economia haitiana. Em 1991, o golpe fez com que as exportações do país caíssem 40% e a economia recuasse em 30% entre 1992-1994.
Com a chegada da missão humanitário-militar brasileira ao Haiti em 2004, lentamente a economia se recuperava. Com o terremoto, o futuro do Haiti não somente estará nas mãos dos deuses, mas também da ONU, do atual governo haitiano e dos investimentos particulares em indústrias e infraestrutura.