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Festa do Interior
Principais festas populares depois do carnaval, as festas juninas
guardam resquícios de tradições ancestrais e são um retrato da
diversidade cultural brasileira.
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Quando chega o mês de junho, todos já sabem: São João vem aí.
É hora de preparar os chapéus de palha e as bandeirolas, convidar
compadres e comadres para dançar quadrilha, acender a fogueira, soltar
rojão e se esbaldar de tanto comer pipoca, cocada e pé-de-moleque.
As festas juninas são as principais festas populares brasileiras depois
do carnaval. São nossas típicas festas do interior. Graças às escolas de
todo o país, essa tradição tem se mantido, fazendo com que nessa época do
ano o Brasil rural contagie a nação e as crianças coloquem o “pé na roça”.
No mês de junho, o país se converte em um enorme arraial. Misto de quermesse
e matrimônio, as festas juninas são paródias desses dois pontos altos do
calendário de toda cidadezinha que se preze. De uma só vez, a cultura
popular recria, à sua maneira, o casamento e a festa da padroeira. Nessas
ocasiões, o caipira veste seu melhor paletó e a botina de passeio - aquela
que aperta o dedão, acostumado ao chinelo. É dia de música, dança e mesa
farta, tudo de que se precisa para que a festa não acabe antes do amanhecer.
Ainda que as festas juninas tenham ajudado a criar uma imagem estereotipada
do homem do campo, questionada por muitos - um sujeito que fala errado, com
dentes sujos, chapéu desfiado e calça na altura das canelas e cheia de remendos
-, uma coisa é certa: elas preservaram de alguma forma todo o simbolismo dos
folguedos anteriores à Era Cristã.
Tradição ancestral
As festas juninas são as guardiãs da tradição secular de dançar ao redor do
fogo. Originalmente, o ponto alto dos festejos ao ar livre era o solstício
de verão, em 22 de junho (ou 23), o dia mais longo do ano no Hemisfério Norte.
As tribos pagãs também comemoravam dois eventos marcantes nessa época: a
chegada do verão e os preparativos para a colheita. Nos cultos, celebrava-se
a fertilidade da terra. Ao pé da fogueira, faziam-se oferendas, pedindo aos
deuses para espantar os maus espíritos e trazer prosperidade à aldeia.
Atualmente, a celebração da fertilidade é representada pelo casório e pelo
banquete que o segue e as oferendas deram lugar às simpatias, adivinhações e
pedidos de graças que se fazem ao santos. O próprio balão leva as promessas a
São João para se conseguir saúde ou dinheiro para quem ficou em terra. Porém,
o santo mais requisitado é mesmo Santo Antônio de Pádua, que ganhou fama de
casamenteiro, segundo reza a lenda, ao levar três irmãs solteiras ao altar.
Uma das adivinhações consiste em cravar uma faca nova no tronco de uma
bananeira. Com um pouco de imaginação, podem-se ver na lâmina os contornos
da inicial do nome do futuro marido, desenhados pela seiva da árvore.
Caldeirão de culturas
As festas juninas são também um retrato das contribuições culturais de cada
povo à cultura brasileira. Para fazer uma festa junina, deve-se cumprir à risca
a seguinte receita:
Comemore as festas juninas conforme os moldes portugueses, isto é, celebre-as
em três devotas prestações: 13 de junho, Santo Antônio; 29 de junho, São Pedro,
primeiro papa - a "pedra" em que se fundou a Igreja Católica; e, por fim, 24 de
junho, São João Batista, primo de Jesus responsável por seu batismo. Desde o
século XIII, a festa de São João portuguesa, chamada "joanina", incluiu os dois
outros santos.
Adicione uma colher de chá de tradição francesa. As quadrilhas são inspiradas
em bailes rurais da França do século XVIII, em cujas coreografias os casais se
cumprimentavam e trocavam de pares. Essas danças desembarcaram com a família
real portuguesa em 1808. Até hoje, em alguns lugares, as evoluções são orientadas
por palavras francesas aportuguesadas: promenade (passeio), changê (trocar), anavam
(em frente), anarriê (para trás).
Para dar sabor, o toque final: culinária tipicamente indígena, com comidas feitas à
base de milho - espigas cozidas, pamonha, canjica e bolo de fubá -, mandioca e coco.
Brincando com fogo
“... Ninguém matava, ninguém morria / Nas trincheiras da alegria / O que explodia era
o amor." A festa junina é assim mesmo como Moraes Moreira a descreve. Tudo acaba bem.
O noivo fujão é puxado pelo colarinho e aceita sua noiva como legítima esposa. Dito o
"sim", com a bênção do padre, o pai da noiva coloca de volta o revólver no cinturão.
Mas para quem resolve brincar com fogo nem sempre o final é feliz. Saltar fogueiras,
driblar busca-pés e soltar balões já estragou a folia de muita gente. A destruição
pode ser maior se o balão atingir a mata e provocar incêndios, especialmente em anos
de prolongada estiagem como este.
Quando Isabel acendeu a fogueira e hasteou uma bandeirinha para anunciar o nascimento
de seu filho, São João, a fogueira era sinal de bom presságio. Hoje, os guardas
florestais se inquietam: onde há fogueira, há balões. Por isso, desde 1965, soltar
balões é crime previsto pelo Código Florestal. Quem trocar os balões por inofensivas
bombinhas e traques merece aquela prenda que está lá no alto do pau-de-sebo.
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