Ecoturismo Uma areia mais fina que talco, quando o vento bate um pouco mais forte, invade
as roupas e os lagos — que variam entre o azul e o verde-esmeralda. E,
ao fundo, um céu por vezes azul, quase límpido, por vezes carregado
de nuvens, chega a contrastar com a paisagem local.
Mais do que uma aventura em que as estradas
viram pedaços de rios ou lagoas, e às vezes paira a certeza de
que a pequena Toyota
não vai vencer o caminho, mais do que o contato com um ecossistema ainda
selvagem e delicado, passear pelos Lençóis Maranhenses é
permitir que as nuances entre o azul e o branco invadam nossas íris e
tirem pequenos suspiros de admiração a cada lugar que se olhe.
É também se deixar invadir pela adrenalina da viagem.
“Existe época em que, para fazer esse caminho, só de trator”,
diz o motorista, logo após uma curva em que tanto eu quanto Cris pensamos
que o carro iria capotar. Pelo grito de susto que saiu da garganta de alguns
passageiros, acredito que esse pensamento tenha ocorrido a outros companheiros
de viagem.
Para conhecer com um pouco mais de profundidade o Parque Nacional, não
basta ter um pouco de espírito aventureiro. Aqui, o turista precisa de
alguns dias, muita disposição e um bom par de pernas.
Para ir apenas de Atins até o Poço das Pedras, tivemos de andar
cerca de duas horas e meia, subindo e descendo dunas, atravessando igarapés
e, por vezes, refrescando-nos em córregos existentes no caminho. Um esforço
que vale a pena.
Do Poço das Pedras à praia, foram mais três horas de caminhada
pela areia, acessando as várias lagoas que se formam pelo caminho, tomando
banhos e despertando a curiosidade em relação às diferentes
tonalidades
de azul e verde das águas. Para voltar a Atins, foram
mais duas horas e meia.
Felizmente, nosso guia era um grande conhecedor das frutas da região
e, por isso, não precisamos levar alimentos. Durante a caminhada, fartamo-nos,
e muito bem, de dezenas de puçás e outras frutinhas silvestres.
Ao final do dia, após oito horas de caminhadas e banhos, estávamos
“quebrados” e extremamente satisfeitos. Só assim foi possível
apreciar um pouco mais as belezas da região, conversar com as meninas
lavadeiras, com os pescadores, acompanhar as panelas sendo areadas
(realmente com areia) às margens dos lagos e entender um pouco como o
ciclo da água é importante no dia-a-dia, no trabalho e no lazer
daquelas pessoas que vivem tão próximas de um habitat mais selvagem.
Nos Lençóis Maranhenses, a água está sob a terra;
não há torneira de onde ela possa jorrar em abundância,
mas, assim como nós da cidade, seus moradores estão sendo obrigados
a se preocupar também com a contaminação, para que, no
futuro, esse líquido tão precioso não precise de toneladas
de produtos químicos para que possa ser ingerido, como acontece atualmente
em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e tantas outras.