Sazonalidade, migração e alguns milagres da natureza
Como foi destacado no boxe anterior, a água que serve para beber,
lavar, cozinhar e até irrigar pequenas plantações (cultura
de subsistência) está sempre à disposição
dos moradores, a pouco mais de um metro de profundidade. Já com as lagoas,
a situação é bem diferente. E aí fica uma dúvida:
se as lagoas secam, como ficam repletas de peixes quando voltam a aflorar?
A resposta é simples — ou melhor, as respostas. O folclore, as
crendices locais e as histórias dos pescadores dizem que, quando a água
volta a cair do céu em forma de chuva — e olha que chove muito
na região —, os peixes aproveitam os arco-íris que se formam
para migrar dos lagos permanentes e do mar para as lagoas sazonais.
Embora menos romântica, a explicação científica
é mais fácil de aceitar. “Como o lençol freático
está muito próximo da superfície, quando os lagos secam,
a areia continua úmida e é capaz de manter milhares de larvas
de peixes em uma espécie de hibernação até que a
cheia do lençol faça com que as lagoas surjam novamente. Quando
isso acontece, as larvas eclodem e a vida volta ao lago”, diz Antonio
Carlos Leal.
Nessa entressafra de peixes provocada pela seca, os pescadores se vêem
obrigados a trocar as lagoas, que às vezes ficam a poucos passos de suas
casas, pela pesca na região marítima do parque. Por isso, ao caminhar
pelas praias da região, não é raro encontrar acampamentos
contendo entre seis e dez barracas de palha como a desta
foto.
“As pessoas vêm para cá, pescam por cinco ou seis dias e
depois vendem o peixe e vão para casa para levar o ‘mercado’
para a família”, diz Arnaldo, nosso pequeno guia.
“A vida aqui é boa. O que se pesca em Atins, vende-se em Barreirinha.
Depois, é só subir o rio de novo e ir para casa ficar um pouco
com a família”, diz Antonio Nascimento, 37 anos e pescador há
22. Além do mar, os pescadores podem contar ainda com os Rios Grande
e Negro, que cortam o Parque dos Lençóis, e com o Rio
Preguiça, localizado na área de amortecimento.
Para minimizar o problema, alguns pescadores da região começam
a construir pequenos criadouros e, assim, tentam evitar a migração
na época da seca.