Não chega a ser uma ilha, mas, cercada de água por todos
os lados, até mesmo no subsolo, Maceió tem a sorte de ainda poder
contar com a água com potabilidade de água mineral que sai das
torneiras das casas.
Quando a contaminação do lençol freático ainda é
pequena, a oferta de água é farta, o tratamento básico
é feito e não existem riscos de contaminação viral
e bacteriológica, aumentam os níveis de exigência quanto
à qualidade da água e é possível pensar em detalhes
ainda distantes para outras regiões do país.
“A qualidade da água em Maceió ainda deixa muito a desejar.
Apesar de não existir contaminação por coliformes fecais,
há pontos em que o índice de ferro é elevado, provocando
manchas em roupas e até nos vasos sanitários. Em outros, a presença
do sal (água salobra) deixa gosto na água. Essas são situações
que temos de melhorar para poder dizer que a população está
sendo bem atendida”, diz o engenheiro químico Antonio Capistrano
Neto, 51, responsável pela coleta, tratamento e qualidade da água
distribuída em Maceió, capital do estado de Alagoas.
Segundo Capistrano, as análises
bacteriológicas e químicas, feitas diariamente
na água que é distribuída para a capital e interior do
estado, mostram que a população vem recebendo, nas torneiras de
sua casa, um líquido de qualidade bem superior ao de outras capitais
por onde passamos.
Quando as análises denunciam a presença de nitrato — “o
que é raro”, garante o engenheiro —, os níveis nunca
passam de três partes por milhão (3 PPM), ou seja, são bem
inferiores aos verificados em Natal, por exemplo. Na região do Tabuleiro,
parte alta da cidade, “as características da água são
de água mineral”, diz Antonio Capistrano. Por outro lado, próximo
à orla marítima, na parte baixa, a água do aqüífero
já está bem salobra devido à invasão do mar. “Já
fechei poços com concentrações de 1.300 PPM, quando o aceitável
pelo Ministério da Saúde é de no máximo 250”,
destaca. Esse é um problema que o engenheiro deseja ver resolvido em
muito pouco tempo.
No que se refere à água, sem dúvida, Alagoas é
um estado privilegiado. Como se não bastasse ser cortado pelo Rio
São Francisco e possuir inúmeras
lagoas (apenas entre o São Francisco e Maceió,
existem 30), o estado e sua capital ainda contam com um lençol freático
riquíssimo, de fácil acesso e que ainda não está
contaminado.
Atualmente, a água distribuída pela Companhia de Saneamento
do Estado de Alagoas — Casal — chega a 70% das residências
da capital. Os mais de 200 poços artesianos existentes na cidade são
responsáveis por 73% do abastecimento. Os outros 27% são provenientes
de água de superfície do Sistema Catolé. A previsão
é de que, no máximo em dois meses, com o funcionamento da Estação
de Tratamento de Pratagy, a quantidade de água de
superfície tratada dobre. “Com a inauguração dessa
estação, vou conseguir fechar todos os poços que hoje apresentam
água salobra e contaminação por ferro e atender melhor
a população”, diz Antonio Capistrano.
Mas, se a oferta abundante de água faz com que a população
seja bem abastecida, também provoca alguns inconvenientes. Em algumas
regiões, é comum a utilização de poços artesianos
— a forma encontrada por grandes condomínios, hotéis e até
mesmo residências para reduzir a conta de água no fim do mês.
Uma realidade que atinge principalmente hotéis da orla marítima,
destinados ao recebimento de turistas. “Isso nos obriga a realizar coletas
esporádicas para a análise de água nesses hotéis.
Alguns apresentam água salobra ou “dura”, mas, até
agora, não encontramos nenhuma contaminação por coliformes
fecais”, diz Jerônimo
Malta Guedes, 44, responsável pelo laboratório
da Casal.
Atualmente, um dos maiores desafios enfrentados pela empresa é a falta
de consciência de alguns usuários. “No passado, tínhamos
pequenas torneiras instaladas em nossos poços para que pudéssemos
fazer coletas e, assim, monitorar a qualidade da água em cada um deles.
Só que as pessoas começaram a abri-las e deixá-las abertas,
às vezes, durante dias; outras simplesmente arrancavam as torneiras,
e perdíamos milhares de litros de água por causa de vandalismo”,
diz o engenheiro químico.