Missão artística francesa
No dia 26 de março de 1816 —
em meio à tristeza pelo falecimento de D. Maria I, rainha portuguesa
—, desembarca no Rio de Janeiro um grupo de artistas franceses encabeçados
por Joaquim de Lebreton, ex-Secretário da Seção de Belas-Artes
do Instituto de França. Entre os artistas encontravam-se Jean-Baptiste
Debret, Nicolas Antoine Taunay e seu irmão Auguste Marie Taunay, Auguste
Grandjean de Montigny e outros. No ano seguinte, chegam os irmãos Ferrez.
Há quem afirme que os artistas franceses vieram ao Brasil por intermédio
do Conde da Barca e do Marquês de Marialva, admiradores das idéias
francesas. Outros dizem que estes vieram por iniciativa própria, bonapartitas
desapontados com o retorno da monarquia dos Bourbon na França após
o Congresso de Viena em 1815. A questão é que Lebreton
liderou a Missão Artística Francesa, também conhecida como
colônia Lebreton, a qual trazia consigo o objetivo de criar uma instituição
destinada ao ensino de artes no Brasil, a Imperial Academia e Escola de
Belas Artes no Rio de Janeiro, que seria inaugurada em 1826.
Nesse meio tempo, os artistas franceses realizaram trabalhos para a corte portuguesa.
Montigny, Debret e Auguste Taunay participaram da organização
dos cerimoniais da chegada da Imperatriz Leopoldina em 1817, aclamação
de D. João VI em 1818 e a coroação de D. Pedro I em 1822.
Apesar do entusiasmo da corte com a presença de artistas franceses no
Brasil, estes vivenciaram situações difíceis. Primeiro,
em 1817, morre o Conde da Barca e seu lugar é assumido pelo Visconde
de São Lourenço, partidário do retorno de D. João
à Portugal. Em 1819, morre Lebreton. Desapontado com as adversidades,
Nicolas Taunay volta para a França em 1821. Em 1831 é a vez de
Debret retornar a sua terra natal.
Saiba mais:
Leia o manuscrito
escrito por Joaquim de Lebreton em 12 de junho de 1816, para o
estabelecimento da Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro.
Correspondências entre Joaquim de Lebreton
e a corte portuguesa na Europa. O nascimento
da missão artística de 1816.
Conde da Barca
Congresso de Viena
Visconde de São Lourenço
Academia Imperial de Belas Artes - Aiba (Rio de Janeiro, RJ)
Saiba mais sobre as medalhas do Brasil Imperial
Biografias
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Joaquim Lebreton - Saint Meel de Gaël (França), 1760 – Rio de Janeiro, 1819
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Historiador, crítico de arte, humanista
e escritor francês. Lebreton foi professor de retórica em Tulle,
chefe de departamento de museus, conservatórios e bibliotecas, e diretor
da agência de Belas-Artes do Ministério do Interior da França.
Em 1800, tornou-se um tribuno da Assembléia Legislativa. Três anos
depois, foi eleito secretário da Seção de Belas-Artes do
Instituto de França.
Após a queda de Napoleão, Lebreton foi pressionado a sair de seu
posto de secretário. Através da influência do geógrafo
alemão Alexander von Humboldt, foi apresentado ao Marquês de Marialva,
diplomata português, que o convidou a organizar uma Missão Artística
Francesa, com o intuito de fundar a Imperial Academia de Belas Artes no Brasil.
Lebreton chegou ao Rio de Janeiro em 26 de março de 1816, acompanhado
de um grupo de artistas. Trouxe consigo uma grande coleção de
obras de artes originais e reproduções para serem vendidas ao
governo brasileiro.
Já eleito ao cargo de Diretor da Real Academia, esperou por três
anos a concretização desse projeto. Entretanto, morreu em 1819
e seu cargo de diretor passou ao pintor português Henrique José
da Silva.
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Jean-Baptiste Debret - Paris (França) 1768 - 1848
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Pintor, cenógrafo e decorador francês.
Debret era primo de Jacques-Louis David, líder da escola neoclássica
francesa, com quem viajou para a Itália. Em 1791, iniciou seus estudos
na Escola de Belas Artes de Paris, os quais foram interrompidos em função
da Revolução Francesa. Também estudou engenharia na Escola
Politécnica, onde depois seria professor de desenho.
Em 1798, auxiliou na decoração de edifícios em Paris. A
partir de 1806, ficou conhecido por pintar os feitos do então imperador
francês Napoleão Bonaparte.
Em 1815, Lebreton o convida à integrar a Missão Artística
Francesa, que estava encarregada de fundar a Imperial Academia de Belas Artes
no Rio de Janeiro, instituição onde atuaria como professor de
pintura histórica. A morte de seu único filho, Honoré,
e o fim da Era Napoleônica, o fez aceitar o convite de Lebreton.
Debret chegou ao Brasil com a Missão Francesa em 1816. Trabalhou como
cenógrafo do Real Teatro São João (atual João Caetano),
pintou retratos para a corte portuguesa e participou da ornamentação
da cidade para a chegada da Imperatriz Leopoldina em 1817, aclamação
de D. João VI em 1818 e a coroação de D. Pedro I em 1822.
Enquanto esperava a construção da Real Academia de Belas-Artes,
Debret viajou pelas províncias de São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul retratando a cultura e sociedade locais.
Organizou a primeira exposição dos trabalhos produzidos pelos
alunos da Real Academia no ano de 1829.
Retornou à França em 1831, após a abdicação
de D. Pedro I, levando seu pupilo Manuel de Araújo Porto Alegre, futuro
diretor da Real Academia de Belas artes no Rio de Janeiro.
Em Paris, Debret publicou “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”
entre os anos de 1834 e 1839.
Saiba mais:
Imagem
retirada da obra Viagem pitoresca e histórica ao
Brasil, de Jean Baptiste Debret. Tomo I. Imagem proveniente
de: Biblioteca
Virtual do Estudante de Língua Portuguesa. A
Escola do Futuro da Universidade de São Paulo.
Permitido o uso apenas para fins educacionais |
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A observação dos costumes dos nativos brasileiros
também esteve presente na arte de Debret. Veja os
vegetais utilizados nos colares, nas tatuagens e na alimentação
indígena. |
Imagem
retirada da obra Viagem pitoresca e histórica ao
Brasil, de Jean Baptiste Debret. Tomo II. Imagem proveniente
de: Biblioteca Virtual do Estudante
de Língua Portuguesa. A Escola do Futuro da Universidade
de São Paulo.
Permitido o uso apenas para fins educacionais |
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Debret retratou a sociedade brasileira, essa imagem exemplifica
a estrutura patriarcal da família. |
Imagem
retirada da obra Viagem pitoresca e histórica ao
Brasil, de Jean Baptiste Debret. Tomo III. Imagem proveniente
de: Biblioteca Virtual do Estudante
de Língua Portuguesa.
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo.
Permitido o uso apenas para fins educacionais. |
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Famoso por retratar a real família portuguesa, aqui
vemos (da esquerda para direita) os retratos de D. Leopoldina,
a rainha Carlota Joaquina e a princesa Amélia. |
Pintura
histórica
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Nicolas Antoine Taunay - Paris (França), 1755 - 1830
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Pintor francês de paisagem,
retratos e cenas históricas. Membro de uma família
de artistas, iniciou seus estudos em ateliês de artistas
parisienses. Em 1784, entrou na Academia Real de Pintura e Escultura,
o que favoreceu a aquisição de uma bolsa de estudos
entre 1789 e 1793 para a Academia do Palácio Mancini,
em Roma. Foi admitido no Instituto de França em 1796
e 10 anos de pois ele foi escolhido para descrever a campanha
de Napoleão Bonaparte na Alemanha.
Integrou a Colônia Lebreton em 1816 e trouxe sua família
ao Brasil. Enquanto aguardava a construção da
Academia Imperial de Belas Artes, atuou como pintor oficial
da corte. Também foi professor de pintura de paisagem.
Seguidos desentendimentos com Henrique José da Silva
— pintor nomeado diretor da Real Academia após
a morte de Lebreton — , levou Nicolas Taunay, em 1821,
a retornar à França com sua esposa, deixando seu
filho Félix Émile Taunay como seu sucessor na
Academia.
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Auguste Marie Taunay – Paris (França), 1768- Rio de Janeiro, 1824
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Escultor francês. Realizou
seus estudos artísticos em Paris com o escultor Jean
Guillaume Moitte entre 1769 e 1785.
Entre 1802 e 1807, atuou como escultor extranumerário
na Manufatura Nacional de Sèvres e participa da ornamentação
da escadaria do Palácio do Louvre e do Arco do Triunfo
do Carroussel.
Em 1816, integra a Missão Artística Francesa e
segue rumo ao Brasil com seu irmão Nicolas Taunay. Ao
lado de Debret e Montigny, participou da ornamentação
da cidade para a chegada de D. Leopoldina (1817), aclamação
de D. João VI (1818) e do Imperador D. Pedro I (1822).
Nomeado professor de escultura na Real Academia de Belas Artes,
não chegou a exercer o cargo, em virtude de sua morte
em 1824.
Foto:
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro IHGB. |
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Busto de Camões, feito em bronze. Luís Vaz
de Camões, escritor português do século
XVI considerado mais completo, pois dominava com distinção
a língua portuguesa. |
Foto:
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro IHGB. |
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Busto da deusa grega Minerva, protetora daqueles que realizam
trabalhos manuais, feito em bronze. |
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Marc Ferrez - Saint-Laurent (França), 1788- Rio de Janeiro, 1850
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Escultor e gravador francês. Na Escola
de Belas Artes em Paris, iniciou seus estudos.
Em 1817, viajou para Nova York, onde permaneceu por seis meses e logo seguiu
para o Rio de Janeiro, juntamente com seu irmão Zéphirin Ferrez
também escultor e gravador. Assim, ingressaram na Missão Artística
Francesa, a qual já estava no Brasil desde março de 1816.
Em parceria de Zéphirin, Debret, Auguste Taunay e Montigny, realizou
a ornamentação da cidade do Rio de Janeiro para as cerimônias
de chegada da arquiduquesa Maria Leopoldina e de seu casamento com o príncipe
D. Pedro.
Sua trajetória na Real Academia começou em 1820, quando foi nomeado
professor substituto de escultura. Com a morte de Auguste Taunay em 1824, ocupou
o cargo de segundo professor na instituição. Somente em 1837,
assumiu a cadeira de professor titular.
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Zéphirin Ferrez - Saint-Laurent (França), 1797- Rio de Janeiro, 1851
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Medalhista, gravador e escultor francês.
Em 1810, inicia seus estudos de gravura e escultura em Paris.
Em companhia de seu irmão Marc Ferrez parte para o Brasil em 1817. Ambos
ingressam na Missão Artística Francesa, a qual já se encontrava
no Rio de Janeiro desde 1816. Ainda em 1817, participa com outros artistas da
Missão Francesa da ornamentação do Rio de Janeiro para
a chegada de Maria Leopoldina, arquiduquesa austríaca, que se casaria
com D. Pedro de Alcântara. No ano seguinte, confecciona com seu irmão,
Marc Ferrez, um berço esculpido e ornado especialmente para a primogênita
de D. Pedro, a princesa Maria da Glória. Esse trabalho favoreceu a entrada
de Zéphirin no quadro de professores da Academia Imperial de Belas Artes,
oficialmente inaugurada em 1826. Também decorou a fachada da Real Academia
com escultura e baixos-relevos.
No ano de 1820, Zéphirin prestou homenagem ao rei D.
João VI, coroado em 1818, com a gravação
da medalha Senatus Fluminensis. Em 1842, recebeu a condecoração
de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa pelo trabalho “Fidelidade de Amador Bueno da Ribeira”.
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Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny – Paris (França), 1776 – Rio de Janeiro, 1850
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Arquiteto e urbanista francês. Iniciou
seus estudos no Liceu de Paris, durante os conturbados anos da Revolução
Francesa. Em 1799, recebeu uma bolsa para estudar no Palácio de Mancini
(Academia de França em Roma). Realizou vários projetos na Itália,
incluindo a remodelação da Villa Medicis em 1803, futura sede
da Academia de França. Com esse projeto, recebeu autorização
para retornar à França em 1805, antes mesmo de concluir seus estudos.
Em 1807, começa a trabalhar para o rei de Vestfália (região
da Alemanha), Jerôme Bonaparte, irmão do imperador francês
Napoleão Bonaparte. Contudo, a derrota napoleônica em 1814, interrompeu
suas atividades como arquiteto. Assim, integrou a Missão Francesa em
1816, sendo encarregado da elaboração do projeto arquitetônico
da Real Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro, instituição
onde lecionou arquitetura até sua morte.
Também planejou várias outras construções na cidade
do Rio de Janeiro, como a adaptação do Seminário São
Joaquim para o Colégio D. Pedro II e a praça do Rocio (atual Praça
Tiradentes). É considerado o primeiro urbanista do Rio de Janeiro. A
ele é atribuído o início do neoclassicismo arquitetônico
no Brasil.
Imagem
retirada da obra Viagem pitoresca e histórica ao
Brasil, de Jean Baptiste Debret. Tomo III. Imagem proveniente
de: Biblioteca Virtual do Estudante
de Língua Portuguesa.
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo.
Permitido o uso apenas para fins educacionais. |
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Planta da Academia Imperial de Belas Artes feita por Gradjean
de Montigny. |
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