E o professor?
Como disse a educadora Otilia Marcacci, nesta
mesma reportagem, “educação é feita de gente”,
ou seja, são as pessoas envolvidas no processo educativo que a viabilizam,
muito mais que livros didáticos e prédios. E o coração
desse motor é o professor. O conjunto de medidas planejadas para ele
dentro do PDE é abrangente, e inclui desde o piso salarial nacional para
os que lecionam na Educação Básica até campanhas
de comunicação para elevar a condição do professor
na sociedade.
Também há projetos que investem na formação do professor,
como, por exemplo, a formação continuada por meio da Universidade
Aberta do Brasil. “Há muito tempo, as universidades não
têm mais uma agenda real com a Educação Básica”,
diz Mozart, com conhecimento de causa: ele foi reitor da Universidade Federal
de Pernambuco de 1996 a 2003. “Todo o estímulo é dado para
a pós-graduação, para a pesquisa, para a inovação
científica, e pouca atenção se deu até hoje para
a Educação Básica.” Vale citar também as propostas
de rechear as bibliotecas das escolas com obras de grandes pensadores da Educação
e promover a criação de um guia de tecnologias educacionais, com
idéias de professores de todo o País. “Fui convidado para
participar de uma discussão preliminar sobre esse guia e tive uma boa
impressão”, conta Erasto. A idéia é analisar práticas
e métodos que estão em vigor nas escolas e dar uma chancela do
MEC às melhores, assim como acontece hoje com os livros didáticos.
A questão mais polêmica está na definição
do piso nacional para a categoria: o PDE prevê a implantação
gradativa de um salário mínimo de R$ 850,00 até 2010, com
dedicação exclusiva e carga de 40 horas semanais. Um dia após
o anúncio do piso, milhares de professores indignados tomaram a Esplanada
dos Ministérios, em protesto contra a decisão. A CNTE —
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
— defende o piso diferenciado por formação, sendo R$ 1.050,00
para professores com Ensino Médio e R$ 1.500,00 para quem tem curso superior,
e carga de 30 horas. O piso já recebeu mais de 100 propostas de mudança.
Os especialistas ouvidos pelo portal concordam que a idéia do piso é
boa para nivelar os salários de professores do País todo. “E
também para evitar a degradação da categoria”, acrescenta
o consultor de remuneração da agência Catho, Mario Fagundes.
Hoje, mais da metade dos professores não recebe o valor proposto pelo
piso. Mas todos também concordam que ele é insuficiente, ainda
mais levando em conta que só passará a valer realmente daqui a
três anos. A discussão sobre o piso é tão, mas tão
velha, que ele foi “definido” 13 anos atrás, por um pacto
entre a CNTE e o governo, e, na época, seria de R$ 300,00. Em 2007, o
que era para ser uma conquista virou um sorriso amarelo. A CNTE promete realizar
uma paralização geral dia 23 de maio de 2007 para chamar a atenção
da opinião pública para a discussão. E a briga do piso
não pára por aí: assim como aconteceu no Fundeb, o governo
federal, os Estados e os prefeitos brigam para ver quem cede mais na hora de
pagar a conta.
• Veja entrevistas sobre a
polêmica do Fundeb, com Tatiana Feitosa de Britto, Consultora Legislativa
do Senado Federal, Francisco Chagas Fernandes, atual Secretário de Educação
Básica do MEC e Paulo Ziulkoski, Presidente da Confederação
Nacional dos Municípios (CNM).
Opiniões...
• “Não creio que apenas um aumento salarial vai auxiliar
na melhoria da qualidade. O professor deve ser reconhecido mesmo, valorizado
de verdade.”
• “Nos anos FHC, em que houve o salto quantitativo, tivemos
que formar professores em todo canto, em instituições
muito mal preparadas. Deveria existir uma análise de desempenho
do professor, uma prova para o professor, não para punir, e sim
para diagnosticar o que precisa ser melhorado na sua formação.
Também acho que poderia se premiar aqueles professores que apresentarem
os melhores desempenhos.”
Celso Antunes, educador e articulista do portal
• “Eu acho um avanço. R$ 850,00 é igual a
uma bolsa de mestrado. Mas tem que rever essa questão da carga
horária, 40 horas vai ser complicado...”
• “Há estudos que desvinculam o ganho salarial do
desempenho. Mas se você tiver um piso melhor, pode motivar jovens
talentosos das universidades que até querem seguir a carreira
do magistério, mas desistem por causa do salário.”
Mozart Neves Ramos, coordenador executivo do instituto Todos
Pela Educação
• “O ideal seria não ter piso algum, e todos ganharem
bem.”
Mauro Fagundes, consultor de remuneração da Catho
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