Entre Vassouras e Petrópolis Os dois principais ramos da Família
Real brasileira na atualidade são:
- o de Petrópolis, formado por descendentes de D. Pedro de Alcântara,
filho mais velho da princesa Isabel, que renunciou à herança do
título por ter se casado com uma condessa que não tinha sangue
real — essa renúncia se estende até hoje a todos os descendentes;
- o de Vassouras, que tem sua origem em D. Luis Maria Filipe, o segundo filho,
que manteve o título.
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a árvore genealógica da sua família!
E quem são eles?
Do ramo de Petrópolis, o mestre, até pouco tempo, era D. Pedro Gastão, que faleceu com 94 anos em dezembro de 2007. Durante certo tempo, ele chegou a
questionar a renúncia do trono feita por Pedro de Alcântara, tentando
assim, reaver a condição de herdeiro, mas a luta não deu
em nada. A questão foi levantada novamente durante o plebiscito de 1993,
mas, como o próprio plebiscito não resultou em nada, ficou por
isso mesmo. Hoje, o ramo de Petrópolis é representado, principalmente,
por empresários e artistas, que estão, em sua maioria, bem inseridos
no contexto social, político e econômico atual brasileiro, uma
das razões pelas quais não se preocupam mais com questões
como herança de trono ou volta da monarquia.
A figura mais popular desse ramo da família
é o príncipe D. João Henrique de Orleans e Bragança,
nascido em 1954. Ele é dono da famosa Pousada do Príncipe, em
Parati, além de fotógrafo de talento reconhecido internacionalmente.
Quando jovem, ele foi apelidado pela imprensa de D. Joãozinho, nome associado
principalmente ao seu hobby favorito — o surfe. O apelido inocente
esconde, no entanto, um homem engajado, de opiniões fortes (que podem
ser identificadas, de certa forma, como de centro-esquerda), fato pelo qual
é constantemente notícia. Casado com Stella Cristina Lutterbach,
D. João tem dois filhos, entre os quais está Maria Cristina, que
é atualmente a única princesa do mundo portadora da síndrome
de Down. Após o nascimento dela, D. João e dona Stella tornaram-se
grandes porta-vozes da luta por melhores condições para quem tem
a síndrome. Ela, por exemplo, é presidente da Federação
das Associações de Síndrome de Down.
O ramo de Petrópolis possui hoje uma
convivência pacífica com o de Vassouras, que tem como líder
D. Luiz de Orleans e Bragança (citado no início desta reportagem).
Ele e seu irmão D. Bertrand são os principais defensores da volta
da monarquia ao Brasil. Se o país tivesse mantido a forma de governo
monárquica até hoje, D. Luiz seria o imperador, e D. Bertrand
o herdeiro direto dele. Eles são filhos de D. Pedro Henrique (falecido
em 1981), que por sua vez é o filho mais velho de D. Luis Maria Filipe.
Esse outro lado da família tem suas
bases no interior do Paraná, na cidade de Jacarezinho. Foi lá
que D. Pedro Henrique passou alguns anos como agricultor, conduzindo a fazenda
Santa Maria, antes de se mudar para Vassouras.
Mas D. Luiz, o imperador, vive mesmo em São
Paulo, onde fica a Casa Imperial do Brasil, dirigida por ele. Suas posições
políticas são conhecidas por serem bastante conservadoras. No
site da Casa Imperial, o “imperador virtual” é definido como
“católico fervoroso”, que luta pela “defesa da prática
firme dos valores morais da Cristandade”. Esse fervor católico
é reforçado pela sua ligação com a Sociedade Brasileira
de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, conhecida
como TFP. Quer dizer, até 2004. Isso porque D. Bertrand, seu irmão,
lidera hoje uma dissidência da TFP, ainda mais conservadora que a organização
original.
São idéias totalmente contrárias
às da maioria dos membros do ramo de Petrópolis. Aliás,
os dois ramos não discordam apenas em questões políticas,
mas também quanto à história da própria família,
como explica o historiador Estevão Martins, professor de História
Contemporânea da Universidade de Brasília e especialista em assuntos
relacionados à realeza brasileira na atualidade. “Só para
dar um exemplo: o ramo de Vassouras, ao contrário do outro, hipervaloriza
o papel da princesa Isabel na abolição da escravatura, colocando-a
como agente quase que exclusivo desse processo. Hoje, sabe-se que houve diversas
variáveis envolvidas, principalmente os movimentos populares e a atuação
de personalidades formadoras de opinião da época.”
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