...filho de Pedro, herdeiro de... quem mesmo? Se você leu o capítulo anterior
e teve dificuldades para “se localizar” entre tantos títulos,
distinguir o Pedro de Alcântara do Pedro Henrique, entender quem é
filho de quem... calma! É mesmo fácil perder-se entre tantas datas
e nomes recorrentes.
Aliás, falando em nomes, você só não se confundiu
mais porque utilizamos nesta reportagem os nomes resumidos dos membros da Família
Real. Sim, na história da realeza brasileira, há quem carregue
dezenas de palavras em um mesmo nome.
Abram espaço, por favor, para o nome completo da princesa Isabel!
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E o nome completo de D. Pedro I, então?
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Imagine quanto tempo demoraria a chamada na
sua turma, se todos tivessem nomes assim. Afinal, para quê tanto nome?
Conforme explica Fátima Argon, chefe do Arquivo Histórico do Museu
Imperial de Petrópolis (RJ), os nomes de então carregavam um pouco
da história da família e até mesmo das crenças da
pessoa. Por exemplo, no nome de Dom Pedro I, “João” é
uma homenagem a D. João V, e “Carlos” é uma homenagem
à mãe, Dona Carlota Joaquina. “Miguel” e “Rafael”
são referências a São Miguel Arcanjo e São Rafael
Arcanjo.
Vale lembrar que antes do nome, vem sempre o título – Príncipe,
Princesa, Imperador - e um pronome de tratamento à altura, como Majestade
e Alteza Imperial.
Hoje, na prática, esses títulos não têm valor. Mas,
em 1993, quase voltaram a ter. Naquele ano, ocorreu um plebiscito que perguntou
à população qual forma de governo ela queria ver instalada
no país. Apesar de ser um acontecimento recente, a idéia do plebiscito
surgiu muito tempo antes. Durante a elaboração da Constituição
de 1988, vários deputados insistiam em afirmar que um requisito da Constituição
de 1891 (a primeira republicana) não tinha sido cumprido: a exigência
de submeter ao povo brasileiro, por meio de voto popular, a decisão de
continuar ou não com a república. A maioria concordou em fazer
a votação, que ficou marcada para 21 de abril de 1993.
Era preciso fazer duas escolhas para o sistema
de governo:
• Forma de governo: monarquia
ou república.
• Sistema de governo: presidencialismo
ou parlamentarismo.
• Veja
um histórico de todas as versões da Constituição
brasileira.
• Entenda
a diferença entre plebiscito, referendo e outros tipos de pleito.
Assim como acontece em uma eleição,
defensores de cada forma e sistema foram aos meios de comunicação,
tentando conquistar a preferência do povo. No fim, a república
e o presidencialismo venceram, mantendo o país como já estava.
Os pró-monarquistas reclamaram da falta de tempo na TV para explicar
suas propostas. Para o historiador Estevão Martins, professor de História
Contemporânea da Universidade de Brasília, o argumento deles faz
sentido. “Como não existe partido monarquista no Brasil, a causa
foi prejudicada em termos de publicidade. Os monarquistas não puderam
ter tempo equivalente ao dos partidos republicanos, o que fez com que a discussão
fosse muito mais entre presidencialismo e parlamentarismo.”
E se o contrário tivesse acontecido? Como seria o Brasil monárquico
hoje? E quanto à família: quem estaria no poder, e de que forma?
“Essa é uma pergunta sem resposta”, conclui Martins, explicando
que não é papel do historiador fazer projeções desse
tipo. Ele acredita que numa república, ser descendente de uma família
que um dia esteve no poder em um regime monárquico não tem valor
prático; mas que um príncipe é uma celebridade que carrega
a tradição histórica que teve no passado. Ou seja, é
nada mais, nada menos, que um registro vivo da História do país.
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