Pode-se alegar falta de recursos, de gerenciamento e até mesmo de vontade
política para encarar o problema de frente, mas, sem dúvida, não
é por desconhecimento das conseqüências que a má utilização
dos recursos hídricos provoca na qualidade de vida do povo brasileiro
(e pernambucano) que quase nada se faz para reverter o quadro de descaso, poluição
e desperdício de água em Pernambuco.
Ao reunir estudiosos e representantes de diferentes setores para produzir
a Agenda 21 de Pernambuco,
o governo do Estado recebeu, no fim de 2002, um estudo bem definido do que seria
necessário mudar para que um desenvolvimento sustentável pudesse
ser alcançado. No decorrer do trabalho, muito mais do que acusações
e planos mirabolantes, vários pesquisadores chamaram a atenção
para alguns dos principais problemas regionais e suas conseqüências
na qualidade de vida das pessoas e levantaram até soluções
para boa parte deles.
“No tocante à água, detectamos que mais de 80% dos problemas
podem ser solucionados em um curto espaço de tempo e com gastos muito
baixos”, disse o reitor da Universidade Livre do Meio Ambiente (Unieco),
Otto Bernar de Farias. Entre alguns exemplos, ele destaca o fato de algumas
redes de água e esgoto chegarem até a 20 metros dos conjuntos
habitacionais e, simplesmente, não serem ligadas.
No relatório, os integrantes da Agenda 21 deixam muito claro que, por
falta de investimento adequado para a recuperação e ampliação
dos sistemas de abastecimento de água, estes vêm sofrendo ao longo
das últimas décadas um processo de sucateamento que tem provocado
descontinuidade no abastecimento, com longos períodos de racionamento,
e feito com que seja fornecida uma água cuja qualidade não atende
aos padrões de potabilidade.
Segundo os dados divulgados, a população que não é
atendida por sistemas de abastecimento de água (cerca de 2 milhões
no Estado) vem utilizando fontes alternativas de suprimento, e, sem controle
adequado da qualidade da água, são gerados efeitos negativos sobre
a saúde das pessoas, entre eles, a ocorrência de doenças
de veiculação hídrica, principalmente entre a população
mais pobre, o que contribui para a elevada taxa de mortalidade infantil em Pernambuco.
Com relação ao tratamento de esgoto, o estudo revela que “o
quadro atual é ocorrência de intensa poluição dos
recursos hídricos, com reflexos negativos na saúde — a proliferação
de várias doenças infecciosas e parasitárias — e
no bem-estar da população. A deterioração ambiental,
especialmente dos recursos hídricos, reflete-se pela contaminação
dos rios, lagos e lençóis
freáticos, sendo atualmente um dos mais graves problemas da região
metropolitana de Recife e da região litorânea”. Além
dos problemas relativos à saúde, a poluição dos
recursos hídricos tem dificultado o desenvolvimento do turismo, uma das
principais atividades econômicas da região. Diante da ineficiência
da Compesa, os municípios economicamente mais fortes vêm procurando
investir nesse setor, especialmente Recife e Petrolina. Nesta cidade, foram
instalados, com sucesso, sistemas de esgoto sanitário do tipo condominial,
em que, atualmente, pode-se verificar o maior índice de atendimento no
Estado.